Oito homicidas, dois traficantes, um assaltante, um pedófilo, um estuprador e outro violador de vulnerável: Minas Gerais tem, atualmente, 14 criminosos na lista de procurados da Interpol – polícia internacional que atua em 194 países. O Estado é o segundo do Brasil com o maior número dessas pessoas, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul, com 21, e seguido pelo Paraná, com dez. No total, 103 brasileiros estão foragidos.

Somente no ano passado, após serem disparadas as difusões vermelhas – alertas para autoridades judiciais e polícias dos países integrantes da Interpol –, 25 foragidos da Justiça mineira foram presos, entre os quais 18 fora do Brasil. “Atualmente, seis pessoas encontram-se presas no exterior, aguardando extradição”, afirma a Polícia Federal (PF) em nota.

Mas não é sempre que acontecem prisões rápidas. Entre os foragidos mineiros há suspeitos que são procurados pela polícia há quase dez anos, caso de Bruno Souza Bicalho Vale Ricardo, natural de Timóteo, no Vale do Aço. Ele está na lista da Interpol desde 2014. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), às 9h de 10 de janeiro de 2010, Bruno Rucardi matou a namorada, Camilla Peixoto Bandeira, na época com 28 anos.

O assassinato aconteceu em uma cabine do navio MSC Música, que voltava para o porto de Santos, no litoral de São Paulo. A vítima foi asfixiada enquanto descansava na cama da cabine que dividia com ele. Ela havia trabalhado sete noites no cruzeiro. O crime, apontaram as investigações da época, foi cometido por ciúme, pois o homem tinha medo de ser traído.

Frio, conforme o MPF, Bruno Ricardo, que atuava como bartender no navio, ainda voltou ao posto de trabalho e serviu sucos para hóspedes. A alegação da defesa foi a de que Camilla cometeu suicídio com um lençol. No entanto, em 2013, o homem foi denunciado por homicídio triplamente qualificado. Ele nunca foi preso.

De acordo com o especialista em segurança pública Jorge Tassi, apesar de os países que integram a Interpol possuírem a ferramenta que dispara alerta imediato com os dados dos procurados e as fotos deles, a morosidade da legislação brasileira, muitas vezes, permite que acusados de crimes respondam em liberdade, facilitando que os criminosos fujam.

“Na prática, vemos uma cooperação muito grande entre as polícias. A questão é a grande possibilidade de recursos que a lei brasileira possui. Isso permite que os suspeitos abandonem o processo e tenham mais tempo para fugir. São processos muito longos. A pessoa com certa capacidade financeira consegue se planejar e fugir. Isso não é difícil. Muitas dessas fugas são para países próximos”, afirma.

 

Emigração

Para a PF, Minas Gerais possui grande número de procurados pela Interpol por ter grande fluxo emigratório – pessoas que deixam o Estado para viver em outro lugar. Além disso, “é o maior Estado em número de municípios e o segundo mais populoso do Brasil”.

Segundo a corporação, atualmente estão ativas 67 difusões vermelhas realizadas pela Interpol em Minas Gerais, mas nem todas estão disponíveis para consulta pública por se tratar de informações restritas às instituições policiais.

 

Familiares ajudam com ações paralelas

Em muitos casos, as investigações contam com o apoio de familiares das vítimas dos criminosos, que colaboram fornecendo alguma pista do criminoso. “A família (da vítima) nos procura com possíveis informações sobre o acusado”, diz Rodrigo Carvalho, advogado de acusação no caso de Fagner Flauzino, de Uberaba.

Rosângela Peixoto, mãe de Camilla Peixoto Bandeira, que foi assassinada em 2010, criou um blog e uma página no Facebook sobre o crime cometido contra a filha a fim de impedir que o caso seja esquecido. “Luto há nove anos. Criei uma organização (Organização de Vítimas de Cruzeiros Brasil). Vamos meu filho e eu até o Tribunal de Haia”, conta.

A especialista em direito internacional Luciana Diniz considera que há hierarquia na escolha do investimento nas operações. “Tem crimes que são mais complexos, e há interesse maior do país, seja pela repercussão ou por outros interesses, como organizações criminosas com grandes desvios de dinheiro”, destaca. “Eles (Interpol) possuem um sistema de inteligência muito forte, mas a tecnologia também trabalha a favor das organizações criminosas”, complementa.

A Polícia Federal (PF) afirma que não existe hierarquia de crimes. Conforme a corporação, em alguns casos, as pistas são mais evidentes e facilitam a localização do foragido. Além disso, segundo a PF, a chance de captura se reduz com o tempo.

 

Foragido estaria na Europa

Entre os sumiços, o de Fagner Flauzino da Silva, natural de Uberaba, no Triângulo, intriga os envolvidos na ação criminal. Isso porque, em 2015, a Justiça brasileira recebeu a informação de que ele morava em Londres, na Inglaterra. Mas, quando enviou a tradução da sentença imposta a Silva, a resposta do país foi a de que não havia ninguém com aquele nome na região.

“Na época, recebemos a informação de que ele estava na França, na casa de uma irmã. Desde então, há a suspeita de que ele está na Europa”, disse o assistente de acusação no caso na época, o advogado Rodrigo Carvalho.

Outra curiosidade a respeito de Silva é que ele aparece no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com pena de 20 anos e seis meses de prisão. Segundo a ação criminal, ele roubou e matou Marco Nascimento, em 2005, em Uberaba. No sistema da Interpol, no entanto, conta só o crime de assalto.

Prisão

Um dos que constam na lista da Interpol, Nilton Aleixo dos Santos está preso, segundo a Secretaria de Administração Prisional de Minas Gerais (Seap). Ele é de Betim, na região metropolitana.

 

Levantamento

Três dos procurados não aparecem com mandado de prisão em aberto pelo Conselho Nacional de Justiça. A Polícia Federal informou que não controla esse banco de mandados.

 

Defesas

Dez advogados dos 14 mineiros procurados foram localizados. Nenhum se pronunciou até o fechamento desta edição.

 

Destaque

Segundo a Polícia Federal, a “Interpol de Minas Gerais é destaque nacional na prisão de foragidos inseridos na lista de difusões vermelhas”, emitidas para os países participantes.

 

 

Fonte: O Tempo ||

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