A proximidade do período chuvoso, que se inicia no próximo mês, traz uma sensação de alívio para os mineiros que vivenciaram recordes de dias secos. Porém, a fase pode ser marcada por mais uma epidemia de dengue em um ano que já acumula, até 9 de setembro, 1,25 milhão de casos confirmados em Minas Gerais, o equivalente a mais de quatro vezes os adoecimentos registrados no mesmo período de 2023, quando foram 279 mil registros. Especialistas alertam que as ondas de calor que assolam o Estado criam um ambiente propício para a preservação dos ovos gerados pelo Aedes aegypti no início de 2024, quando foi registrado o maior surto da doença no Estado. O período chuvoso, historicamente, começa em outubro e termina em março.
Aliado ao alto número de casos e à chegada da chuva, em Belo Horizonte, a cobertura vacinal para o público-alvo está abaixo da expectativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 95%. Entre 8 e 14 anos, a cobertura é de 31,4% para a primeira dose da Qdenga e 11,4% para a segunda dose. A reportagem consultou um laboratório particular de BH e constatou que a imunização completa contra a dengue é de R$738 (caso a pessoa adquira o combo das duas doses; apenas uma dose custa R$436).
O infectologista Leandro Curi explica que as altas temperaturas e o tempo chuvoso, que favorecem o acúmulo de água em locais fechados e recipientes, são a combinação ideal para a eclosão dos ovos fertilizados. “Os ovos gerados na estação anterior podem eclodir nas próximas chuvas que virão, e taxas altas de dengue podem acontecer novamente, ainda este ano. Isso chega a ser assustador e é um momento para se temer sim”, ressalta. De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), uma fêmea pode gerar mil ovos ao longo da vida, e esses podem sobreviver por até 450 dias — mais que um ano.
Em nove meses, o Estado acumulou 984 mortes em função do agravamento da arbovirose. O número é cinco vezes maior que as 174 registradas entre janeiro e 11 de setembro do ano passado, conforme o boletim epidemiológico da Secretaria do Estado de Saúde (SES-MG). Curi ressaltou ainda que casos de dengue não acontecem somente em períodos chuvosos, mas durante os doze meses do ano. Ele enfatizou que as ações relacionadas ao combate das arboviroses precisam ser contínuas e não apenas em épocas de epidemia. “Os governos estão falando pouco sobre isso”, disse. Por outro lado, o governo de Minas informou que segue monitorando o número de casos confirmados, além de revisar planos de contingência das arboviroses. Além disso, a SES-MG garantiu que qualifica profissionais e conta com o auxílio do governo federal.
Pior epidemia da cidade
A subsecretária de Promoção e Vigilância à Saúde da Secretaria Municipal de Belo Horizonte, Thaysa Drummond, considera que a capital mineira enfrentou a pior epidemia de dengue da história entre os 853 municípios de Minas Gerais. A capital mineira registrou uma alta superior a mil por cento no número de casos confirmados da arbovirose, totalizando 182.410, na comparação de janeiro a setembro deste ano com o mesmo período do ano passado — quando foram registrados 12.277 diagnósticos.
De acordo com a subsecretária, as ações do plano de contingência à dengue começaram antes da efetivação do decreto de emergência de saúde pública — que foi finalizado no dia 13 de junho de 2024, mesma data em que foram encerradas as atividades no hospital de campanha. Entre as ações adotadas pela PBH estão: ampliação dos horários de funcionamento de centros de saúde, abertura dos centros aos fins de semana, disponibilização de um hospital de campanha, entre outros.
Para Thaysa Drummond, o momento atual é de ‘tranquilidade’ e ‘calmaria’ em função da queda de casos que acontece desde agosto, monitorada pelas ovitrampas (que funcionam como armadilhas capturando o mosquito). No entanto, a subsecretária ressaltou a importância da constância no monitoramento e vigilância, pois o quadro epidemiológico pode mudar a qualquer momento.
Casos são registrados nas UPAs
Apesar da queda no número de casos registrada pela PBH, a UPA Odilon Behrens, na região Noroeste de Belo Horizonte, continua recebendo pacientes com sintomas de dengue. A reportagem esteve na unidade de pronto-atendimento nesta terça-feira (24 de setembro) e constatou que a unidade de saúde é procurada por pacientes com sintomas de dengue. O atendente de telemarketing Vinicius Augusto, de 20 anos, precisou interromper a jornada de trabalho para receber atendimento médico. “Se acontecer alguma coisa, e eu não conseguir trabalhar, é complicado, porque eu sou um dos pilares da minha casa”, disse.
O jovem contou que foi encaminhado à UPA após sentir calafrios e o termômetro medir 37,5ºC. Ele ainda relatou dores fortes no corpo e na garganta. “Foi meu chefe que me pediu para que eu viesse à unidade. Nunca fui diagnosticado com a doença”, disse. Ele se preocupa com a mãe e a irmã, caso haja um foco em casa ou nos arredores.
A auxiliar de cozinha Iara da Silva Camila Santos, de 36 anos, também esperava por atendimento na UPA Odilon Behrens e relatou sintomas que podem indicar dengue. Há quatro dias, ela sofre com dores intensas e persistentes no corpo, garganta e cabeça, além de febre. A mulher, que já foi diagnosticada três vezes com dengue, disse que precisou sair do trabalho mais cedo para procurar atendimento médico. “Só fico deitada, pois não consigo ficar em pé. E tomando água, já que não consigo comer. Não aguentei trabalhar, e minha patroa me mandou vir ao médico”, conta Iara.
Fonte: O Tempo
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