Minas não tem mar por uma questão de humildade. Na verdade, se você conferir nos cartórios de imóveis desde a Barra da Tijuca até o Arraial D’Ajuda, verás que de papel passado, Minas tem muito mais de frente para o mar do que aparenta. E por questão de estilo, não por pãoduragem, até o sal levamos de casa quando vamos para a praia.

A terra das montanhas azuis é antes disso, a terra dos mineiros, e das mineiras!!!

Em Minas Gerais o sujeito nasce arrogante pelo simples fato de ser mineiro. Meio arrogante! O mineiro não olha, espia; não espera, espreita. E não se rende nunca, afrouxa. Confia, desconfiado. Quem nasce por aqui é um sujeito da paz, mas nem tanto; educado, mas nem sempre. E há que ser também inconfidente, sempre que necessário. Mineiro é meio bobo, só meio!

Há um tanto de gente por aí que fala igual mineiro. Baianos falam igual os mineiros do norte de Minas. Paulistas puxam o sotaque do triângulo e do sul do Minas; são meio Uberlândia, meio Pouso Alegre. Cariocas falam quiném o povo de Juiz de Fora, e tal qual os juiz-foranos, torcem pro Flamengo. E os mineiros do centro do mundo, tipo eu, falam cortando as palavras: On cê vai? Cê tá bão? Cê sá cê ôns pás na Savás? E por aí vai!

E somos uma gente formada por esta mistura maravilhosa de africanos, índios brasileiros, portugueses, alemães, italianos, ingleses, paulistas desbravadores, por gente de todo canto.

Terra de minas, de minérios, de mineiros, desde sempre… Aqui um velho ditado diz que “enquanto descansa, carrega pedra”. É que os escravos na hora do descanso, desciam as minas carregando pedras para escorar as paredes que por vezes caiam sobre suas cabeças. Coisas e causos aqui de Minas.

Lugar das cidades mineradoras. Algumas delas carregando os minérios até no nome. Terra onde a gente nasce em Ouro Preto, em Ouro Branco, em Ouro Fino, em Conceição dos Ouros. No Prata, em Pratápolis e em Pratinha. Em Pedra Dourada, Pedra Bonita, Pedra Azul e em Pedras de Maria da Cruz. Em Itabira, Itabirito, Itabirinha e em Santa Maria de Itabira. Diamantina, Turmalina, Esmeraldas, Cristais e Carbonita. Terra de Ferros, de Rochedo de Minas, da Serra do Salitre. Lugar onde cidade virou até nome de água: São Lourenço e Cambuquira.

Aqui a gente aprende que revolução se faz antes com palavras, depois com armas. E no meio de um país com muita história, foram os inconfidentes, da Inconfidência Mineira, que viraram heróis nacionais. Na verdade, morreu só o soldado que era o mais pobre dentre aqueles poucos inconfidentes, mas como somos bons de marketing, o cara virou herói nacional. O feriado é de Tiradentes, entendeu?

Local onde nasceu, por óbvio, a Comida Mineira. Desculpem-me aqueles insatisfeitos de outros cantos que insistem em falar que se trata da Comida Brasileira. Já era, morram reclamando, e morram comendo angu com quiabo, costela de porco com moranga, frango com Ora-Pro-Nóbis, Comida Mineira!

Terra da pinga boa, do pão de queijo, da linguiça de Formiga, do queijo Minas, seja da Canastra, do Serro, do Araxá, da Zona da Mata e de tantos outros cantos. Ou também vai dizer que é queijo brasileiro? Terra do café, do garimpo, da lavoura, do gado, do homem da roça. Do Jeca que de bobo não tem nada.

Terra das Serras do Cipó, da Canastra, do Espinhaço, da Mantiqueira, do Mar (também é nossa), da Paciência, do Curral, da Piedade, da Moeda, do Ibitipoca, do Caparaó, da Serra dos Alves …

Terra do Rio São Francisco e do Rio Grande, dois grandes rios que nascem ali perto de Formiga. A caixa d’água do Brasil entorna água para todos os cantos do país. Vale do Jequitinhonha, vale do Mucuri, vale do Rio Doce. Rio das Velhas, rio Cipó, rio Mata Cavalo, rio Preto, Paraopeba, Paracatu, Manso, Itapecerica, rio Piracicaba, rio do Amparo e rio das Mortes.

E nesses tempos em que a política dá nojo, aqui é a terra do Tancredo Neves, o primeiro presidente eleito após a ditadura militar (que houve mesmo, viu). Terra do Afonso Arinos, de Milton Campos, do Itamar Franco. A terra de JK, que vindo de Diamantina, parou em Beagá e acabou presidente do Brasil, e foi para o planalto central construir Brasília.

Tá bom, terra da Dilma e do Aécio, tem base?

Terra de Clara Nunes, de Milton Nascimento, do Rei Pelé e da Chica da Silva. A terra do Aleijadinho, o mais reconhecido artista brasileiro de todos os tempos; brasileiro não, mineiro. Terra da Dona Beija (de Formiga) e do Mestre Ataíde.

Terra de Guimarães Rosa, de Carlos Drummond de Andrade, da Adélia Prado e do Ziraldo. Do Grande Otelo e do Ary Barroso. Terra de Santos Dumont, o cara que inventou o avião, sacou?

A terra do Galo, do Cruzeiro e do Mequinha, mas também a terra do Vila Nova, do Tupi, do Guarani, do Valério Doce, do Boa, do Formiga, do Mamoré.

Terra dos Kaxixós, dos Pataxós, dos Maxakalis, dos Krenak, dos Xakriabás, dos Pankararus.

Terra de quilombos e de quilombolas.

A terra das montanhas azuis é além de tudo isso, a terra de uma gente hospitaleira, feliz, leal, rezadeira, do bem, modesta, recatada, trabalhadora, forte e corajosa. Terra de metaleiros, de punks, de roqueiros e, terra da viola.

Muito do que o Brasil é, muito do que tem e do que virou, deve aos mineiros e à nossa terra. Sem ufanismo, mas bem antes de ser um rostinho bonitinho, fazemos a melhor cachaça do mundo, desde sempre, pois além do mais, sem cachaça, o Brasil é insuportável.

Um mineiro, é verdade, está em casa em qualquer lugar do mundo, mas na terra das alterosas é que estamos sempre mais felizes.

Aqui é o que há.

 

Por: Vinicius Porto

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