Falar sobre sexo e o uso de métodos contraceptivos ainda é um tabu, mesmo nos dias atuais onde questões como empoderamento feminino, diversidade sexual e igualdade de gêneros são tão presentes nas mídias e nas redes sociais.

No entanto, para esclarecer dúvidas sobre esses dois assuntos, 92% dos mineiros preferem utilizar a internet ao invés de procurar um especialista. Muito mais do que a média brasileira, que é de 60%.

Os dados são de uma pesquisa da Bayer em parceria com o Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo foi divulgado na terça-feira (26), quando foi celebrado o Dia Mundial de Prevenção da Gravidez Não Planejada.

O ginecologista e mastologista Afonso Nazário, professor da Unifesp e coordenador da pesquisa, destaca que tudo passa pelo incremento da educação sexual em casa e nas escolas. “Os números indicam uma realidade delicada e mostram a necessidade de difundir informações e ensinar adolescentes e jovens adultos sobre os métodos contraceptivos disponíveis e a importância da prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs)”, explica.

A psicóloga e educadora sexual Laura Muller, conhecida nacionalmente pelo quadro no programa Altas Horas, da TV Globo, acredita que é possível encontrar na web boas informações. “Sempre oriento os jovens a buscarem uma instituição ou profissional de respeito. Há muitas informações sem qualidade na internet, claro. Mas há fontes confiáveis também”, observa.

Preocupações

O levantamento, que pesquisou padrões de comportamento masculino em relação a esses temas, foi realizado em agosto deste ano, com dois mil homens de 15 a 25 anos, em dez capitais brasileiras, incluindo BH.

Dos entrevistados, 72% atribuem a responsabilidade pela contracepção e prevenção de DSTs ao casal. Porém, quando é feito o recorte da capital mineira somente em relação a prevenir a gravidez, os percentuais são bem diferentes. Apenas 4% dos belo-horizontinos acreditam ser do casal esse encargo, enquanto que 77% deles dizem ser os homens responsáveis exclusivamente pela contracepção.

Sem camisinha

Considerado um problema de saúde pública, a gravidez não planejada é responsável por uma a cada duas gestações no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

No entanto, embora 31% dos homens tenham apontado a gravidez com a segunda preocupação durante o ato sexual (perdendo apenas para as DSTs, com 34%), 73% afirmaram já terem feito sexo sem usar um método contraceptivo.

Como justificativa, 48% dos entrevistados apontaram que preferem que as parceiras tomem anticoncepcional e só 24% disseram ser favoráveis ao uso dos dois métodos de prevenção (oral e preservativo) ao mesmo tempo.

No caso da pílula, o diretor da Área Farmacêutica da Bayer Brasil, Rubens Weg, afirma que, apesar de os jovens entenderem a efetividade do medicamento, o uso ainda não é feito por todos. “A contracepção não é uma tecnologia, existe desde a década de 1950, é distribuída pelo sistema público de saúde, mas ainda não é consumida e aceita”. Já em relação ao não uso de camisinha, 16% deles alegam não querer “estragar” a diversão e 12% afirmaram não dispor de método contraceptivo na hora H.

Gastos com gestação na adolescência lançam alerta

Se a gravidez não planejada é um problema na fase adulta, na adolescência torna-se ainda mais grave. Segundo a ginecologista e obstetra Albertina Duarte Takiuti, responsável pelo Ambulatório de Ginecologia da Adolescência do Hospital das Clínicas de São Paulo, 10% do PIB brasileiro são gastos com consequências da gravidez adolescente como prematuridade e mortalidade infantil.

“Sou formada há 45 anos e, a cada vez que uma paciente me conta que está grávida, pergunto o que ela sente. Muitas vezes, houve a decisão. Mas, na adolescência, definitivamente essa decisão não existe”.

Conforme pesquisa global da Bayer em parceria com o GuttmacherInstitute para o Dia Mundial da Contracepção, também celebrado na terça, 41% das gestações no mundo não foram planejadas.

É preciso conversar

Uma das formas de reduzir esse quadro de bebês nascidos de adolescentes grávidas, cujo número chegou a 547 mil em 2015, é a disseminação da informação. A pesquisa mostrou que 90% dos entrevistados têm receio ou vergonha de iniciar uma conversa sobre sexo.
“Os jovens precisam de honestidade, conversas simples e conselhos sem julgamento moral”, coloca Afonso Nazário, professor da Unifesp.

 

Fonte: Hoje em Dia ||

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