“O cachorrão vai te pegar” – é dessa forma inapropriada e chocante que um monitor da rede Coleguium, unidade do bairro Nova Suíssa, região Oeste de Belo Horizonte, se insinuava antes de molestar crianças e adolescentes da instituição de ensino. Preso nesta terça-feira (11), ele é investigado por crimes de abuso e importunação sexual contra ao menos 13 vítimas que estudavam na escola, segundo a Polícia Civil.
Na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), no bairro Carlos Prates, o delegado Vinícius Dias explicou que o suspeito começou a ser investigado em maio, quando uma mãe de uma criança de oito anos prestou queixa contra o funcionário da escola.
“Eram duas meninas que estavam conversando ao sair do banheiro e foi quando ele brincou dizendo que, se elas estavam conversando muito, era o caso delas namorarem, e perguntando o que elas achavam de dormir no colégio com ele. Como as vítimas tinham idade entre 6 e 15 anos, isso gerava uma aflição nas crianças porque o papel do disciplinar não é esse”, diz o delegado.
A conduta do monitor impressionou até mesmo os investigadores, que ficaram chocados com a forma como ele abusava das crianças, sempre extrapolando das funções na escola para se aproveitar dos alunos.
“A forma de atuação eram através de brincadeiras, como falar que o ‘cachorrão vai te pegar’, ‘a fada madrinha vai passar a varinha no seu cabelo’, e até na quadra da escola, onde ele foi nomeado para atuar como árbitro do futebol masculino e feminino, e sempre se aproveitando para apalpar nos seios, no bumbum e em outras partes das crianças”, explicou Vinícius.
Segundo a Polícia Civil, esse comportamento ficou comprovado pelos depoimentos dos alunos e dos pais, e também pelas imagens que foram registradas pelas câmeras da escola, e que mostram a forma como o suspeito se aproximava e apalpava as crianças. Um fato que chamou a atenção foi um episódio em que esse suspeito puxou a cabeça de uma menina em direção ao seu órgão sexual, fazendo parecer que iria apenas saltar sobre a vítima.
Suspeito nega
Preso temporariamente nesta terça-feira pela manhã em sua residência, no bairro Betânia, região do Barreiro, o monitor não tem passagens pela polícia e já havia trabalhado em outras duas instituições de ensino antes de trabalhar no Coleguium em maio deste ano. Durante a oitiva ao lado do advogado, ele negou os abusos e disse que tudo não passava de uma brincadeira. Mas as contradições no depoimento chamaram a atenção da polícia.
“O depoimento dele hoje não foi suficiente para nos convencer e ele não percebeu que não era normal esse tipo de brincadeira, e isso causou estranheza. Num primeiro momento ele fala que não brincava, depois ele fala que brincava. Depois ele diz que não entrava no banheiro feminíno, e depois recua. Então percebemos que ele não se tornou seguro nessas afirmações até pelo volume de vítimas que nos procuraram detalhando as mesmas características do ato praticado”, comenta o delegado.
Ainda segundo a autoridade, a prisão poderá ser alterada para preventiva, o que fará com que o suspeito permaneça detido até o fim das investigações. Ele pode responder pelos crimes crimes de abuso sexual e importunação sexual em penas que, somadas, podem chegar a mais de 40 anos de prisão.
Colégio também será investigado
A outra fase do inquérito vai apurar se a conduta do Coleguium foi adequada no caso e se a escola poderia ter agido antes para evitar que esse tipo de crime continuasse sendo cometido. Segundo o delegado Vinícius Dias, o funcionário só foi afastado do cargo depois que a direção foi oficialmente notificada pela Polícia Civil. Isso ocorreu depois de mais de uma semana depois que a primeira mãe registrou a queixa no colégio.
“Se a gente perceber que as coordenadoras e os diretores sabiam dos fatos e foram omissos no afastamento desse funcionário, eles podem responder crimes de importunação na modalidade culposa em virtude da omissão que pode ser determinante para esse tipo de delito”, explica.
O que diz a escola
Em nota, o Coleguium contradiz a Polícia Civil e diz que afastou o funcionário poucas horas após a primeira denúncia, que teria sido registrada, segundo a escola, no dia 22 de junho. Confira a nota na íntegra:
A direção da unidade Nova Suíça da Rede Coleguium informa que sempre esteve à disposição das autoridades policiais para colaborar com as investigações e reafirma que, ao receber a primeira denúncia, em 22 de junho, em poucas horas afastou o então colaborador, que atuava na unidade havia menos de três meses.
A gestão manteve, desde o primeiro momento, diálogo transparente com as famílias por meio de atendimento em grupo ou individual. Uma equipe de psicólogos especializados elaborou ações direcionadas aos colaboradores, professores e alunos. O atendimento psicológico da unidade e as atividades acadêmicas sobre o tema também foram reforçados.
A Rede Coleguium é uma instituição tradicional, que atua há 35 anos com seriedade e comprometida em oferecer educação de excelência, segurança e conforto aos alunos e seus familiares. A rede declara que a situação é extremamente sensível e está, juntamente com as famílias, trabalhando intensamente para superar esse desafio.
Fonte: O Tempo