Não houve resistência do povão à implantação da reforma trabalhista. E este não reclamou porque ninguém reclama em tempo de desemprego elevado e, também, porque os trabalhadores parecem não estar cientes da tragédia que se abaterá sobre si mesmos. Resumo da ópera: daqui a para frente, haverá mais subempregados e nanoempreendedores, com menos dinheiro no bolso, jornadas mais desgastantes e menor sustentabilidade da Previdência Social.

O que se viu nas ruas, no último dia 10, foram burocracias sindicais lutando, principalmente, pela preservação do chamado “imposto sindical”. Diziam que, sem ele, os trabalhadores não teriam como se defender dos empregadores. Bobagem! Se tomarmos por termo inicial a vigência da CLT, veremos que, no pós-guerra, o movimento sindical europeu, mesmo sem as tais contribuições compulsórias, sempre foi muito mais forte que seus correspondentes no Brasil. O Brasil, depois do Estado Novo, não por acaso, só presenciou greves relevantes a partir de maio de 1953, época em que os contratos celetistas originais começaram a perfazer dez anos e os trabalhadores passaram a gozar de estabilidade no emprego. Daí porque a ditadura tratou logo de inviabilizar a estabilidade, com a criação da “opção” pelo FGTS em 1966. Se os sindicatos não tivessem sido tão negligentes (apesar dos indecentes índices brasileiros de rotatividade de mão de obra) com a reivindicação de regulamentação da proteção contra a dispensa imotivada, prevista na Constituição de 1988, o quadro poderia ser outro.

Mas a proteção contra a dispensa imotivada não é remédio capaz de sanar o mal pela raiz. Estamos entrando na era do desemprego estrutural. A poderosa Siemens acaba de anunciar que eliminará 7.000 empregos na Alemanha. E a Alemanha é um país onde os sindicatos são fortes, não porque sejam sustentados por contribuições compulsórias, mas sim porque os trabalhadores têm sido protegidos por uma legislação que proíbe a dispensa imotivada. E, mesmo assim, a “moda” de trabalhos precários (terceirização, jornada parcial, trabalho intermitente, autônomos digitais etc.) já está grassando por lá, desde o governo do social-democrata Gerard Schröder, no início dos anos 2000.

A verdade é que o empresariado está conseguindo vender seu peixe, apesar de um tanto apodrecido. Os trabalhadores não têm conseguido propor um caminho diferente. Parecem ter sucumbido ao mantra da distopia de Margareth Thatcher: “Não há alternativa”. Ou, como propaga o professor José Pastore, um dos mais qualificados porta-vozes do empresariado no Brasil, “melhor emprego precário do que emprego nenhum”. Pelo menos assume-se, agora com sinceridade, que o capitalismo não pode oferecer um futuro róseo para os imensos contingentes de deserdados sobre a face da Terra.

Esse “balde de água fria” deveria servir de ponto de partida de uma luta ideológica a ser travada pelos que pensam que outro mundo ainda é possível.

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