O mundo descobriu recentemente o poder e o risco das fake news. Mas no Brasil, há décadas, somos vítimas de narrativas falsas que corrompem nossa maneira de pensar.
Para defender seus gastos, o governo corrompe a aritmética e cria a falsa narrativa da moeda com a inflação, dando-lhe valor menor do que o indicado na cédula.
Bastaria o PIB crescer para todos terem bons empregos e altos salários e o Brasil chegaria ao Primeiro Mundo. O resultado foi o crescimento da riqueza nas mãos dos poucos ricos e a persistência da pobreza na vida da multidão de pobres.
Quando essa narrativa mostrou a cara perversa, optou-se pela falácia de que a transferência de R$ 170 em média por mês seria suficiente para tirar uma família da pobreza. Decretou-se o fim da miséria, independentemente da verdade.
O impeachment seguiu prescrições constitucionais e as instituições continuam funcionando. O novo presidente foi escolhido vice duas vezes pela presidente impedida. Mas ainda prevalece a falsa narrativa de golpe.
A mesma falácia que impedia ver os problemas já anunciados em 2011 no meu livro “A Economia Está Bem, Mas Não Vai Bem” agora mostra os problemas herdados como sendo criados pelo atual governo.
E esse mesmo governo, imerso na corrupção e desprezando a opinião pública, contribui para fortalecer a falsa narrativa de que ele é o culpado do desastre, mesmo quando a economia mostra recuperação.
Da mesma forma, sustenta-se a falsa narrativa de que a Lava Jato vai salvar o Brasil, esquecendo-se de que juiz pode mandar prender político corrupto, mas não elege político honesto.
Criou-se a narrativa da Lei da Ficha Limpa, de que a política acabou com a corrupção, mesmo deixando soltos e elegíveis políticos e juízes que constroem palácios, com dinheiro roubado de escolas, do saneamento, de teatros e da ciência.
É também falsa a narrativa de que a cassação dos direitos políticos de um corrupto vai educar o eleitor, quando poderá até acomodá-lo. Todos que não forem condenados serão vistos como igualmente bons.
Depois do “rouba, mas faz”, cairemos no “se não rouba, já é bom”, não importando suas prioridades e competência. O Brasil vai continuar igual se não nos educarmos como eleitores.
Quando se discutia a Lei da Ficha Limpa, defendi que o “ficha-suja” deveria poder ir à campanha como os cigarros vão à venda, com o aviso de que “este candidato foi condenado por corrupção e faz mal à saúde nacional”.
A Justiça condenaria, mas caberia ao eleitor cassá-lo nas urnas. Não se tiraria a soberania do povo e certamente educaria melhor o eleitor. Mas não foi assim que a lei foi aprovada, com apoio dos que não aceitaram a sugestão e, hoje, reclamam dela.
A Lei da Ficha Limpa deu à Justiça o poder de condenar e cassar. Vamos ter de conviver com ela, esperando educar o eleitor por outros meios, mas alertando que acreditar plenamente em narrativas falsas não educa.

 

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