A nova estação brasileira na
Antártica será inaugurada nesta terça-feira (14) pela Marinha. O complexo de
mais de 4,5 mil m² será entregue quase oito anos depois do incêndio que destruiu a
base anterior. Pesquisadores brasileiros estão há mais de três
décadas no continente.
A Estação Antártica Comandante Ferraz recebeu um investimento de US$ 99,6 milhões (cerca de R$ 400 milhões), e vai conseguir acomodar até 64 profissionais do Programa Antártico Brasileiro (Proantar).
Criado em 1982, o Proantar leva ao continente gelado pesquisadores que
atuam nas áreas de oceanografia, biologia, glaciologia, química e meteorologia.
Os trabalhos são desenvolvidos em acampamentos, navios e estações.
A nova estação ficará no mesmo local da estrutura antiga, instalada em 1984 na Península Keller, dentro da Ilha Rei George. A primeira base abrigou pesquisadores até fevereiro 2012. Um incêndio onde ficavam os geradores de energia do complexo destruiu quase toda a estrutura e provocou a morte de dois militares.
Em agosto de 2018, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC) e o CNPq lançaram um edital no valor de R$ 18 milhões para
financiar projetos do Proantar, o dinheiro é destinado a 16 projetos aprovados
e cobre as despesas de pesquisa até 2022.
Dividida em 3 módulos
O prédio principal da nova estação
brasileira é dividido em três grandes blocos, o Leste, Oeste e Técnico. Neles,
se encontram a maior parte dos laboratórios, os dormitórios e os serviços
básicos da estação, divididos desta forma:
- Bloco Leste: é o bloco das pesquisas, de convivência e serviços. É onde se concentram os laboratórios. Dos 17 no total, 14 estão lá. Os outros 3 ficam em módulos separados. Além disso, é onde ficam os refeitórios, a cozinha, a ala de saúde, a sala de secagem e as oficinas.
- Bloco Oeste: é uma área privada da base, onde moram os pesquisadores, além de concentrar as áreas de convívio. Há 32 quartos, uma biblioteca, uma academia e auditório. Nas partes mais baixas deste bloco estão os depósitos de mantimento e reservatórios de água.
- Bloco Técnico: é onde fica o controle da rede elétrica, sanitária e de automação da estação. Também é onde está a garagem. Além disso, há uma estação de tratamento de água e esgoto, casa de máquinas, geradores, e sistemas de aquecimento, bem como um incinerador de lixo.
Construção mais
segura
Construído em um local inóspito, o
complexo consegue suportar temperaturas negativas, nevascas e ventos de até 200
quilômetros por hora. A estrutura ainda tem sistemas de detecção, alarme e
combate a incêndios.
Os preparativos para reconstruir a estação tiveram início ainda em 2012, com a retirada dos escombros da antiga base. Depois disso, a Marinha lançou um edital para obra do novo complexo, que não recebeu nenhuma proposta até 2014.
Uma nova licitação foi aberta em
2015, e a empresa
chinesa Ceiec foi escolhida para realizar as obras da estação.
Como só é possível trabalhar na Ilha Rei George durante o verão antártico, que vai de outubro a março, a empresa executou a obra em diferentes etapas. Parte da estação foi preparada na China, em módulos que só foram levados e montados após o fim do inverno.
Centro de pesquisas
Apesar do incêndio, as pesquisas
brasileiras na Antártica não pararam. Na Ilha Rei George, os trabalhos foram
desenvolvidos em uma estação provisória, montada ao lado da base consumida pelo
fogo. Os “módulos emergenciais” foram usados enquanto os
pesquisadores aguardavam o final da reconstrução.
“Essa
nova base vai nos dar condições de trabalho e um salto qualitativo nas
pesquisas científicas”, diz Paulo Câmara, pesquisador da Universidade de
Brasília (UnB) que trabalha na
estação.
Pesquisadores brasileiros estão há mais de três décadas desenvolvendo pesquisas no continente por meio do Programa Antártico. Eles não ficam restritos à Ilha Rei George, onde foi instalada a estação. Há, também, trabalhos sendo desenvolvidos no navio Almirante Maximiano e em acampamentos montados em diferentes pontos da Antártica.
“São 14 milhões de km², uma das
maiores reservas de gás e de água doce do mundo. 70% da água doce do mundo está
aqui”, diz Câmara, que estuda a vegetação antártica.
Há, ainda, o módulo Criosfera 1, um contêiner que coleta dados e foi instalado a cerca de 2,5 mil km de onde fica a estação.
As pesquisas realizadas em solo
antártico são variadas e cobrem diferentes áreas do conhecimento. De acordo com
um dos editais mais recentes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), de 2018, as propostas de projetos aprovados vão de
geologia a medicina.
Veja abaixo as áreas de estudo:
- O papel da criosfera no sistema terrestre
- Dinâmica da alta atmosfera na Antártica
- Mudanças Climáticas e o Oceano Austral
- Biocomplexidade dos ecossistemas antárticos
- Geodinâmica e história geológica da Antártica
- Química dos oceanos, geoquímica marinha e poluição marinha
- Biologia Humana e Medicina Polar
- Inovação em novas tecnologias
“O Brasil é um dos poucos países que podem decidir o destino deste continente”, afirma Câmara. “Para que o Brasil possa continuar ajudando a ditar os rumos deste continente, precisamos fazer pesquisa. A estação nova vai nos permitir pesquisas de qualidade, pesquisas de alto nível.”
Fonte: G1||