Em meio à epidemia de zika vírus e à elevação do número de casos de dengue, ambas enfermidades causadas pelo Aedes aegpyti, o número de visitadores sanitários, agentes que checam a existência de focos do mosquito nas residências, despencou ao longo do último ano no Brasil. Em dezembro de 2015, de acordo com informações do DataSus, do Ministério da Saúde, havia no paísl 13.596 visitadores, menos da metade do que havia em janeiro daquele ano: 34.308. Em dezembro de 2014 eram 32.582.

Desde fevereiro de 2015, quando o número de agentes atingiu seu pico (35.183 visitadores), o quadro de funcionários atuando na fiscalização dos focos do Aedes aegypti registrou quedas a cada mês. Ao longo do ano, a redução chegou a mais de 60%.

O Ministério da Saúde alega que a queda se deu pelo fato de que os visitadores vêm sendo transformados em agentes comunitários de saúde. No entanto, os números do DataSus desmentem a informação. O contingente de agentes comunitários de saúde passou de 284.941 para 282.987 em um ano. O portal mostra ainda um contingente denominado “agentes de saúde pública/saneamento”. Também esses sofreram reduções. Foram de 46.351 para 23.870. Com isso, mesmo somando visitadores sanitários e agentes de saúde em diversas classificações, o número de profissionais teoricamente aptos para combater a dengue caiu de 363.873, em dezembro de 2014, para 310.499 no mesmo período de 2015, uma redução de 14,66%.

 Depois de reduzir sistematicamente o número de visitadores sanitários e de agentes nos meses anteriores, agora, em meio à epidemia, o governo faz um mutirão para tentar acabar com os focos do mosquito. Nos últimos dias, foram anunciadas várias medidas, como o uso de leituristas das companhias de energia (que fazem a leitura dos relógios) que serão treinados para identificar e denunciar focos do Aedes aegypti, e militares do Exército, que auxiliarão sempre que os agentes não conseguirem entrar nas residências.

Nessa quarta-feira (3), a presidente Dilma Rousseff usou cadeia nacional de rádio e televisão para, em discurso, exaltar os esforços do governo no combate às epidemias de zika e de dengue. O tema também foi destaque nas falas da presidente na abertura dos trabalhos do Congresso nacional, nesta terça, e em evento de entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida, nesta quarta, em Indaiatuba, interior de São Paulo.

O ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB), que chegou a dizer que o Brasil estava perdendo a guerra contra o mosquito, mudou o tom e também apresentou dados para dizer que o trabalho está sendo fortalecido. Ele afirmou que o país está fazendo “o maior esforço na história”. Em conversa com ministros da área de países do Mercosul, em Montevidéu, no Uruguai, Marcelo Castro afirmou que são hoje 522 mil pessoas trabalhando no combate ao mosquito. “Temos 46 mil agentes de combate que estão indo de casa em casa e reforçamos com outros 266 mil agentes comunitários de saúde, além de 210 mil militares das Forças Armadas”, disse o ministro. Nenhum dos números apontados por Castro, no entanto, batem com os dados atualizados em dezembro do ano passado pelo DataSus.

A preocupação com zika vírus cresceu no mundo inteiro após o aumento do número de casos e as ocorrências de microcefalia associadas ao vírus. O Ministério da Saúde recebeu, desde o início da epidemia até o dia 30 de janeiro, 4.783 notificações da doença. Deste total, 709 casos foram descartados e 404 tiveram confirmação de se tratar de microcefalia ou outras alterações nervosas (17 já foram confirmados como causados pelo zika). Restam 3.670 a serem investigados. No total, foram notificados 76 óbitos relacionados à microcefalia e/ou outros problemas do sistema nervoso, após o parto ou por abortamento espontâneo. Nem todos têm relação comprovada com o zika vírus.

 

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