Neste ano, o deslocamento por bicicleta em Belo Horizonte se tornou mais perigoso. Não devido ao trânsito, mas por causa dos ladrões. Furtos e roubos de bikes aumentaram 40%, de janeiro a setembro. Oitenta e oito ciclistas foram vítimas de assaltos, contra 63 no mesmo período de 2017.

Atualmente, cerca de 3.200 pessoas utilizam o meio de transporte diariamente, segundo a BH em Ciclo, uma das principais associações de ciclistas da capital. Do total, 34% são mulheres e 66%, homens.

Na tentativa de se proteger dos criminosos, as pessoas lançam mão de medidas como pedalar em grupos, criar rotas alternativas e evitar sair à noite. É o caso da arquiteta Marina Oliveira, de 35 anos, assaltada em fevereiro, na avenida dos Andradas, Leste da capital.

Após um compromisso do trabalho, ela retornava para casa, no bairro Silveira, na região Nordeste da cidade, quando foi abordada por dois homens por volta de 21h30. “Estava pedalando rápido, mas um deles era muito forte e pulou em cima de mim. Ele começou a me chutar e dar socos”, relembra a arquiteta.

Os suspeitos fugiram levando a bicicleta avaliada em R$ 650 e uma mochila. “Agora, evito pedalar à noite. Quando necessário, vou no máximo até 22h, em deslocamentos menores. Mas, em geral, tenho optado por ônibus ou aplicativos”.

Marina conta que também recorre, quando necessário, ao uso de bicicletas compartilhadas, que ficam em estações espalhadas pelo município.

Mapeamento

A prevenção segue como principal arma para barrar a ação dos ladrões, reforça o coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, Robson Sávio Reis Souza. “Ações de repressão aos crimes são mais difíceis de serem realizadas. Uma estratégia é mapear as áreas de risco para que o patrulhamento seja eficaz”.

Outro ponto importante é o combate ao mercado paralelo. “É preciso identificar quem está comprando essas bicicletas, saber se há um esquema de desmanche de peças. Assim, você sufoca o comércio ilegal que alimenta a prática”, acrescenta o especialista.

De acordo com  a Guarda Municipal, rondas com agentes, também em bicicletas, são realizadas em pontos de circulação de ciclistas, como na orla da Lagoa da Pampulha.

Cuidados

Já a Polícia Militar disse que a adoção de alguns hábitos pelos ciclistas são fundamentais. Além dos passeios em grupos, circular por vias com boa luminosidade e em horários com movimentação de veículos e pedestres nos arredores.

Porém, mesmo as pedaladas com a presença de mais pessoas demandam cuidados. “O ideal é o usuário ir de carro até o ponto de encontro e colocar a bike em um suporte, porque, geralmente, a volta para casa ocorre em um horário com pouca circulação de pessoas”, alerta o tenente Washington Amaral, do 1º Batalhão da Polícia Militar.

“O mais importante (em caso de assalto) é não reagir e acionar a PM imediatamente para que o fato seja registrado. Assim, o rastreamento na busca pela bicicleta pode começar mais rapidamente”, afirma o oficial.

À Polícia Civil também foi solicitada uma fonte para falar, dentre outros pontos, sobre o perfil dos bandidos e a receptação. O órgão enviou nota dizendo que as investigações dos crimes são feitas nas delegacias das áreas da ocorrência, onde é apurado o destino das bikes.

Seguros

O medo de ter a bike tomada por bandidos contribuiu para um aumento nos preços dos seguros. Para garantir proteção ao bem, normalmente, é cobrada uma taxa de 15% sobre o valor da bicicleta. Uma corretora da capital confirma que reajustes têm ocorrido nos últimos anos. “O assalto é o que movimenta o mercado. O acidente é apenas um componente”, frisa Duilly Cicarini, diretor da empresa. Segundo ele, mais de 90% dos sinistros atendidos são por descuido. “A pessoa costuma deixar a bicicleta desprotegida, na rua”.

Assustada com a onda de assaltos, a secretária Priscila Vizacre, de 33 anos, contratou um seguro. Em abril, ela evitou um prejuízo ainda maior quando teve o meio de transporte roubado na MG-020, entre BH e Santa Luzia. “Fiz a proteção antes mesmo de sair da loja”, conta. Conforme a secretária, a bicicleta avaliada em R$ 7 mil não foi recuperada, mas ela recebeu R$ 5.300 da seguradora. Priscila tinha outra bike e, hoje, adota cuidados como os citados pela PM. “Por segurança, vou de carro para os pedais coletivos, porque tenho medo de voltar sozinha. Além disso, geralmente ando durante o dia. Só saio à noite se estiver acompanhada”.

 

 

Fonte: Hoje em Dia ||

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