Lembro da criação do Banco Master, com propaganda em rede nacional vendendo a imagem de ser uma instituição moderna para ajudar o cliente. A estratégia foi uma armadilha para milhões de clientes, atraídos por imagens de sucesso atreladas à promessa de remuneração acima do mercado pela compra de títulos.

O que parecia apenas mais um banco agressivo no mercado de investimentos virou símbolo de imprudência, fraude e ambição sem freio. A liquidação extrajudicial do Banco Master — decretada pelo Banco Central — e a Operação Compliance Zero, que levou o banqueiro e executivos à prisão, desmontam a ilusão de retornos altos sem risco proporcional. Agora, 12,4 milhões de correntistas e investidores assistem ao colapso de uma instituição que prometia segurança e rentabilidade, mas dependia de mecanismos que lembram mais uma pirâmide financeira sofisticada.

O Banco Central apontou crise de liquidez e violações severas às normas do sistema financeiro. A Polícia Federal detalhou emissões fraudulentas de títulos de crédito que circularam, inclusive, pelo Banco de Brasília (BRB). Estima-se que R$ 12,2 bilhões tenham sido movimentados com base em instrumentos falsificados.

Para os investidores, o impacto é imediato, pois só receberão até R$ 250 mil via Fundo Garantidor de Créditos. O restante será objeto de crédito a ser pago em liquidação de ativos, com prazo incerto.

A explosão do escândalo expõe uma engrenagem recorrente no país e um alerta sistêmico, com instituições oferecendo produtos financeiros com rendimentos acima do mercado, apresentados como aplicações seguras. Por outro lado, a busca por lucros extraordinários, sem compreensão de risco, abre espaço para fraudes, manipulações e estruturas financeiras travestidas de inovação.

O caso envolve fundos opacos, empresas listadas em bolsa, clubes de futebol, fundos estrangeiros e instituições públicas. O alcance ainda está sendo revelado.

A promessa mentirosa era simples: ganhar mais e rápido, com risco zero. A realidade, escondida na promessa, era outra: exposição elevada, governança questionável e sinais de alerta ignorados por instituições, gestores e parte do setor público.

O Banco Central mostrou a sua independência ao não aprovar as operações de aquisição pelo Banco Master pelo BRB ou por investidores estrangeiros, evitando blindar a empresa. Entretanto, o BC poderia ter intervido mais rapidamente para minimizar os prejuízos para o sistema financeiro.

Das quebras de bancos nos anos 90 às pirâmides digitais recentes, o país repete um ciclo: euforia, cegueira, colapso — e indignação posterior.

A pergunta agora é simples: quem paga a conta? Os responsáveis — ou os milhões que acreditaram na promessa do lucro fácil? Por enquanto, o prejuízo é coletivo. E o aprendizado chega tarde, como sempre acontece quando o mercado troca prudência por busca cega por rentabilidade.

 

 

 

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