No auge da campanha eleitoral de 2014, o governo de São Paulo anunciou que, a partir de 2016, iria jogar água do esgoto da população, depois de tratada, nas represas para depender menos das chuvas, que nos últimos anos estiveram bem escassas. E uma semana antes desse anúncio, a cidade de Campinas anunciou que também vai fazer o reuso. E já existe outro projeto de estação de água de reuso perto do rio Cotia.
Em outras palavras, a qualquer momento isso será feito e o primeiro reservatório deve ser o do Guarapiranga, que abastece a zona sul de São Paulo. A água de reuso ainda não é usada para o abastecimento público na Grande São Paulo.
Embora isso escandalize alguns, não é novidade. Na cidade de Wichita Falls, no Texas, por conta da escassez de água, as autoridades resolveram, no ano passado, fazer o mesmo. A seca de lá deixou o Estado sem alternativas. E, embora os habitantes daquela cidade terem exposto seu desagrado, aceitaram passivamente. A água de reuso já é utilizada em San Antonio para regar campos de golfe, parques e universidades. E Dallas faz o mesmo.
A água residual será tratada e depois chegará ao rio Big Wichita para passar por um processo natural de limpeza e desembocar no lago Texoma. Quando inaugurar a planta, o prefeito de Wichita Falls será o primeiro a beber um copo d’água.
Historicamente, o Texas é o estado mais preparado para lutar contra a seca, desenvolveu projetos de água convencionais como reservas, poços de água subterrânea e diversas medidas de conservação. As autoridades locais também consideram dessalinizar a água para enfrentar a seca contínua que assola o estado há quatro anos, atingindo 83% de seu território com algum nível de seca e 67% com uma seca severa.
Se o paulistano está preocupado, saiba que o último plano estatal sobre água estimou que o Texas terá um déficit de um quatrilhão (milhão de milhões) de litros para 2060, embora os especialistas do Centro de Estudos Políticos do Texas asseguram que a cifra chegará apenas a 41 bilhões (mil milhões) de litros. Seja como for, qualquer das cifras é um número surpreendente.
E o pior, para a maioria das previsões dos especialistas, Texas ficará ainda mais seco e quente como resultado da mudança climática. E o aumento da temperatura está resultando em aumento da demanda de água e energia. Em algumas partes da região isto limitará o desenvolvimento, acabará com os recursos naturais e aumentará a concorrência por água entre as comunidades, o setor agrícola, a produção energética e as necessidades ecológicas.
Não custa lembrar que o Texas produz 50% do algodão dos Estados Unidos da América, que representam um quarto da produção mundial. O Texas ainda produz amendoim, milho e trigo. E já se observa o mesmo em outros estados como Oklahoma, Louisiana, Novo México e Kansas e outros lugares como o leste da África, Canadá, França e Grã-Bretanha. O Brasil, apesar de tudo, tem todas as possibilidades para consolidar-se no cenário, só precisamos de um governo federal que funcione.