Neste ano de 2022, a independência do Brasil completa 200 anos. E a semana de arte moderna, que exaltou a cultura e a identidade próprias do país na produção intelectual e artística nacional, completa 100 anos. Esse marco temporal, hoje, eleva a um nível transformador semelhante aos anos 22 (1822 e 1922) que o antecederam, porque esse ano tem a previsão de ser muito importante para a vida do povo deste país. 

No início do Século XX, o povo brasileiro enfrentou uma grande pandemia, como agora. Naquele tempo, a gripe era o grande mal. E foi vencida com medicina responsável e forte influência de médicos sanitaristas jamais esquecidos no Brasil. 

O país estava recebendo imigrantes europeus e cada vez mais eles estavam influenciando a vida nacional. Uma visão crítica da realidade que os imigrantes proporcionaram trouxe eventos importantes ao cotidiano das massas operárias como a Greve Geral de 1917 de forte influência anarquista.  

Em 1922, a abolição da escravatura já completava 34 anos, em um contexto onde, desde o Império, o Brasil já padecia da doutrina do branqueamento. E permitiu que fossem trazidos ao Brasil imigrantes europeus visando tornar a população brasileira mais branca. 

Muitas produções artísticas fantasiaram o deslocamento desses imigrantes. Mas em uma visita à Serra Gaúcha, rapidamente, essa visão romântica é desmistificada, mostrando que o transporte em navios não eram glamourosos. E,  ao chegarem ao Brasil, os imigrantes eram confrontados com uma realidade completamente diferente daquela prometida pelos diplomatas brasileiros na Europa. 

No século XX, na semana de arte moderna, encontram-se a cultura dos povos nativos do Brasil, dos negros outrora escravizados e que agora lutavam para garantir cidadania num país onde ainda estava muito presente a doutrina do branqueamento e os imigrantes que fugiam de uma Europa assolada por tropas de Napoleão e depois pelas tensões e hostilidades da Primeira Guerra. 

Nesse contexto, é que a semana de arte moderna se propôs a uma arte de características brasileiras.  Gerando o movimento antropofágico.  Tudo isso é parte do que somos. São as bases daquilo que devemos exprimir.  

Indígenas que resistiram aos brancos desde o início da colonização, e até hoje preservam seus costumes, em aldeias urbanas e de florestas, resistindo a todo tipo de investida. Negros que resistiram à escravidão formando Quilombos. No Brasil, o de maior expressão é o de Palmares. Agora, constitucionalmente reconhecidos.

Também, os imigrantes que legaram aos brasileiros a visão de mundo anarquista. Um povo marcado por lutas e resistências e por um forte senso crítico da realidade, após dois anos de lutas para sobreviver à pandemia do covid 19 e tendo visto entes queridos e pessoas próximas partirem acometidos da doença ou mesmo que de outras causas sem poder se despedir, respeitosa e adequadamente, com certeza, olharão esta realidade sabendo reconhecer a responsabilidade daqueles que poderiam ter amenizado os impactos e as dores deste mal global e não o fizeram, ao contrário agiram com desdém e negação.  

A persecução penal e aplicação das punições adequadas são atribuições dos tribunais. Mas é atribuição do povo enviar o recado por meio das urnas, declarando criticamente por votos, que não irão tolerar mais os políticos que não tenham sensibilidade à realidade do povo.  E que não desenvolvam políticas de igualdade e de acesso aos bens produzidos no sistema capitalista a todas as pessoas.  

Pesquisas eleitorais recentes seguem mostrando que, na política, o povo obrigado a engolir o negacionismo e o desdém em relação a seu martírio, utilizando sua cultura de resistência e capacidade de reinvenção, antropofagicamente, aplicará nas urnas as punições merecidas. E, depois das urnas, o que se espera é que sejam aplicadas nos tribunais as punições penais. 

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