Em outubro último, aconteceu a 4ª Congregação Geral do Sínodo dos Bispos sobre a Família no Vaticano. E começou bem, com o testemunho de Sua Beatitude Raphael I Louis Sako, Patriarca de Babilônia dos Caldeus, que destacou a experiência dos cristãos iraquianos naquele tumultuado país e que permanecem fiéis à fé.

Os círculos menores debateram durante três dias as propostas para a redação do documento final do sínodo, que não é vinculante, mas servirá como ponto de referência para que o Santo Padre, como sucessor de Pedro, decida o que seja mais conveniente para o bem da Igreja.

O círculo menor de língua espanhola analisou o Instrumentum Laboris, documento que orienta a reunião, o ponto inicial para o debate, e apresentou como proposta atuar com a necessária misericórdia para com os filhos que sofrem as consequências da violência na família, o abandono, o divórcio dos pais, etc. Também demonstrou interesse particular na juventude, com seus valores positivos e suas deficiências quanto ao matrimônio. Os membros do grupo acham que faltam referências para temas como a castidade e a virgindade, a santidade e a espiritualidade da família.

As propostas servirão para a redação do documento final, a ser apresentado ao papa Francisco. As decisões do papa não estarão necessariamente vinculadas ao documento final. Foi indicado que seria oportuna uma definição da família, seja como a da Gaudium et Spes, da Familiaris consortio,  ou mesmo de outros documentos. Eles também observam que o plano divino é único e, portanto, tem-se que falar do matrimônio em si, sem as distinções.

A comparação entre a Família e a Igreja foi recorrente, assim como a Igreja é sacramento de salvação, a Família cristã deve ser um sinal visível e participativo da Igreja. Há vários graus de sacramentalidade do matrimônio: natural, aliança e cristão. A fidelidade de Deus se derrama no Sacramento do Matrimônio, mas à maneira humana: “quidquid recipitur, ad modum recipientis recipitur”, ou seja, o que uma pessoa recebe é recebido de acordo com a sua capacidade natural. O grupo ainda acrescenta que a fidelidade é um mistério que inclui a fragilidade.

A espiritualidade matrimonial nasce da presença de Deus entre os esposos e os pais são os primeiros catequistas, assim sendo, a família a Igreja doméstica. Lamentavelmente, os pais perderam a capacidade de transmitir a fé, o que leva a comunidades formais ou que desenvolvem só uma dimensão da vida cristã. Por outro lado, reiterando que há vários graus de sacramentalidade do matrimônio, o grupo assegura que não se pode ignorar que há muitos valores positivos em outros tipos de família.

Também é necessário falar aos jovens sobre o matrimônio não da perspectiva do medo. O “para sempre” não se encaixa na sua maneira de pensar e consideram que um certificado não faz o matrimônio, identificando as muitas formalidades com hipocrisia.

O círculo finaliza observando que também falta uma Teologia da Família. Parece que a Igreja se limita a repetir coisas óbvias, mas faltam ideias-chave, ideias-motoras. Esperemos que o Papa seja orientado pelo Espírito Santo para cumprir seu papel de chefe e guia da Igreja e dos homens de bem.

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