Na terça-feira (13), o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) de Formiga-MG foi palco de um momento inédito e significativo para a Rede de Atenção Psicossocial do município. Pela primeira vez, profissionais da saúde mental participaram de uma palestra sobre o tema “Letramento Racial e Saúde Mental”, conduzida pela psicóloga Lorena Rodrigues, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) da região Centro-Oeste.

A atividade foi realizada em formato de roda de conversa, favorecendo a troca de experiências e a construção coletiva de saberes. O objetivo foi discutir as interseções entre raça, racismo e cuidado em saúde mental, promovendo reflexões críticas e urgentes sobre desigualdades históricas e estruturais que afetam a população negra no Brasil.

O que é letramento racial?

Durante o encontro, Lorena explicou que o letramento racial é o processo de desenvolver consciência crítica sobre o racismo estrutural e institucional, compreendendo suas manifestações históricas e contemporâneas. Trata-se de adquirir um repertório conceitual e prático para reconhecer e combater o racismo no cotidiano, promovendo mudanças tanto no nível individual quanto nas estruturas sociais e institucionais.

Temas abordados na palestra

A psicóloga trouxe diversas reflexões para o debate, como:

  • A predominância de uma formação histórica hegemônica, marcada pela “história única do colonizador”, que nega práticas racistas e sustenta a lógica da meritocracia.
  • O projeto histórico de embranquecimento do Brasil e seus efeitos persistentes na sociedade.
  • A invisibilidade de autores e autoras negras nas formações acadêmicas, ainda dominadas por perspectivas eurocêntricas.
  • Dados preocupantes sobre violência, trabalho infantil, evasão escolar e suicídio entre a população negra.
  • A necessidade de desconstrução do mito da democracia racial no Brasil.
  • A importância da interseccionalidade no cuidado psicossocial, considerando como gênero, classe, sexualidade e raça/cor se sobrepõem na experiência dos usuários.
  • A valorização dos saberes populares e ancestrais no cuidado em saúde mental, fortalecendo a autonomia e o protagonismo de usuários e familiares, conforme os princípios do SUS.
  • A urgência de aplicar as diretrizes da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
  • As diversas formas de manifestação do racismo: estrutural, institucional, religioso, epistêmico, recreativo e ambiental.

Participação e impacto

O encontro reuniu profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), estudantes do curso de Psicologia da UNIFOR e representantes de movimentos sociais, como a ativista Terê, do coletivo “Raça Negra Para Todos”. A presença desses diferentes atores fortaleceu o diálogo entre os serviços públicos, a academia e a militância antirracista.

A palestra representou um marco para a Rede de Atenção Psicossocial de Formiga-MG ao inserir de forma inédita o debate racial no contexto do cuidado em saúde mental. Ao evidenciar que não há cuidado possível sem o enfrentamento das desigualdades raciais, o evento reafirmou o compromisso com a construção de espaços de fala, escuta e ação transformadora, alinhados aos princípios da equidade e da justiça social.

Foto: Divulgação

Fonte: Gabriel Nogueira Ferreira, coordenador da Rede de Atenção Psicossocial de Formiga-MG

 

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