O sonho acabou. É na Quarta-feira de Cinzas, sem glitter, latão ou batucada, que o verdadeiro ano novo dos brasileiros é anunciado. Após uma sequência de festas em dezembro, viagens de férias em janeiro, o temido IPTU, Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, e gastos com material escolar, a conta chega, e é hora de encará-la. Em Minas, o pagamento do Imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA) começa agora, em março. E, neste ano, com valores reajustados. Diante desse cenário, surge o grande desafio: equilibrar as contas.

Para Gelton Pinto Coelho, conselheiro efetivo do Conselho Regional de Economia de Minas (Corencon-MG), antes de tudo, as pessoas não devem se sentir culpadas pelas dívidas. “Quando 80% da população está endividada, não é culpa dela; é da política econômica”, observa. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em janeiro, 77,9% das famílias estavam endividadas em 2022, uma alta de 7 pontos percentuais em relação a 2021.

Coelho, que também é economista da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed), lembra que, nos últimos anos, a população já vem adotando estratégias para reduzir os gastos, como substituir carne por frango ou ovo nas refeições. “Levar o cooler no Carnaval e comprar a cerveja, mas não os petiscos nos bares, já é um indicativo”, considera.

Ele pondera que, desde o final do ano passado, grande parte das famílias usaram o benefício do 13° salário para quitar parte das dívidas, que, em sua maioria, estão abaixo dos R$ 5.000. “Mas a alta da inflação acaba comprometendo a renda e impedindo uma vida financeira mais equilibrada”, explica.

O economista justifica ainda que as contas de luz e água também tiveram um aumento vertiginoso, pressionando o orçamento, e que a composição dos gastos do brasileiro com cartão de crédito, por sua vez, é feita, basicamente, com alimentação e despesas médicas.  “Não é um gasto supérfluo. O endividamento é uma tentativa de sobrevivência”, afirma.

Nesse contexto de crise, o que ainda é possível fazer para sair do aperto? “Fugir do cheque especial e cartão de crédito”, responde o economista. Ele recomenda que essa parte da dívida seja a primeira a ser resolvida, visto que recaem juros compostos sobre elas a cada mês. “O valor do cartão fica mais alto que o salário. Gera uma instabilidade a longo prazo”, explica. Ele recomenda que seja feita a renegociação do débito diretamente com os bancos.

Organizar as contas facilita os cortes

Organizar o orçamento familiar é fundamental para equilibrar as finanças, indica o economista Gelton Pinto Coelho. “Separar as contas por itens e anotar os gastos facilita a enxergar onde está sendo feito o maior investimento e verificar o que é possível cortar”, diz Coelho. Segundo ele, pode ser que o custo de um veículo com manutenção, impostos e abastecimento não seja realmente necessário visto seu uso no dia a dia, por exemplo.

Para o economista, pagamentos em cartões ou PIX fizeram com que as pessoas perdessem a dimensão real do custo de cada produto. “Eu brinco que a vida orçamentária é igual a uma dieta: tem época que você vai gastar mais e outras economizar mais. O importante é não perder o controle do orçamento; pode ser num papel anotado”, diz Coelho.

‘Eu mereço’ ao fim do dia é grande vilão

Saber o tamanho da dívida é a primeira recomendação do professor de economia e finanças, Cleyton Izidoro, para deixar as contas no azul. “Não se desoriente. Tenha calma. Coloque tudo no papel, quanto deve, quanto ganha, quanto demora para pagar e quanto consegue fazer de reserva. Evite ao máximo pegar empréstimo; fazer uma dívida para pagar outra”, afirma.

O professor lembra que o trabalhador pode pedir antecipação do 13° salário em caso de férias, e utilizar o dinheiro para abater a dívida. Outra alternativa, segundo ele, é pensar em renda extra.

Ele explica que tudo é uma questão de planejamento e orienta as pessoas com dívidas a não fazerem compromissos financeiros que não poderão cumprir. É preciso, segundo ele, que o endividado faça compras racionais. “Pense se é necessário, se foi planejado e de onde você vai tirar o dinheiro”, afirma.

Segundo o professor, o popular “eu mereço” no fim do dia, que leva àquele pedido de comida por aplicativo ou a compra de uma nova blusinha, é um dos maiores desafios para quem se propôs a cortar gastos.

 

Veja dicas de como tentar equilibrar as contas

  • Parcelar impostos como IPTU e IPVA
  • Renegociar dívidas direto com bancos e concessionárias (água e luz)
  • Reduzir pacotes de streamings
  • Reduzir as saídas do fim de semana
  • Ir mais vezes aos supermercados para procurar promoções
  • Ir às compras no supermercado fora da primeira e última semana do mês, quando os preços sobem até 15%
  • Fazer comida em casa, em caso de home-office, ou levar marmita para o trabalho
  • Mudar hábitos para evitar desperdício: comprar somente aquilo que consome e reutilizar de forma criativa. Frutas podem ser congeladas
  • Se ater ao valor da energia: não deixe luzes e aparelhos ligados sem necessidade
  • Reduzir uso de internet de dados
  • Pra não cortar o lazer totalmente, procurar promoções em cinemas e teatro
  • Vender roupas não utilizadas no brechó
  • Tentar fazer uma renda extra.
  • Fonte: O Tempo
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