Mais de 106 milhões de brasileiros já estão completamente imunizados contra a Covid e muita gente perdeu o medo de viajar. Mas mesmo com a vacinação avançada, possivelmente o a retomada do setor do turismo não seja tão acelerada quanto a expectativa, já que a tendência é que o preço das passagens aéreas suba consideravelmente nos próximos meses.

No acumulado de 12 meses encerrados em setembro, as passagens aéreas tiveram alta de 56,81%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador supera o índice geral da inflação acumulada no período, que ficou em 10,25%, o maior desde fevereiro de 2016.

De acordo com informe da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o preço do querosene de aviação (QAV) registrou alta de 91,7% no segundo trimestre deste ano, em relação a igual período do ano passado. O alto preço do barril do petróleo no mercado internacional e a cotação do dólar acima de R$ 5,50 pressionam o valor do combustível e, consequentemente, os preços das tarifas áreas.

E com mais pessoas interessadas em viajar, a lei da oferta e da procura também impacta nos preços das passagens. Em um período de fim de ano posterior a uma crise sem precedentes, não será mais tão fácil para o consumidor conseguir promoções nos sites das companhias aéreas.

“A demanda por passagens aéreas aumentou muito, mas a oferta ainda não respondeu a esse aumento. Muitas companhias estão operando em capacidade mais baixa e lidando com preço alto do combustível, o que faz com que a passagem aumente”, analisa o professor de Economia do Ibmec-BH, Paulo Casaca.

Segundo ele, para as companhias aéreas não é tão fácil responder ao crescimento da demanda como em outros ramos da economia, devido à complexidade do setor, que envolve manutenção de aeronaves e contratação de uma mão de obra extremamente especializada – 51% dos custos do setor são indexados pela moeda norte-americana, segundo a Abear.

“Nem todos os setores conseguem responder prontamente a demanda, como está acontecendo com os semicondutores. As empresas de aviação sofreram muito durante a pandemia e devem demorar mais para responder à demanda, porque elas têm muitos custos cotados em dólar”, completa o professor.

Combustível é 24,6% mais caro do que nos Estados Unidos

Produzido na Gabriel Passos, em Betim, e em outras poucas refinarias no país, o querosene de aviação (QAV) brasileiro é um dos mais caros do mundo. Levantamento da Abear indica que o preço médio do combustível, no Brasil, foi 24,6% superior do que nos Estados Unidos, no primeiro semestre de 2021.

Além do preço do petróleo e da cotação do dólar, o combustível no país ainda recebe a tributação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o que não acontece em outros países, de acordo com as empresas aéreas. As companhias estrangeiras não são obrigadas o imposto ao abastecer em território brasileiro, o que faz com que, às vezes, um voo internacional seja mais barato do que um doméstico em distâncias similares.

E os custos não param aí. Durante evento online sobre o futuro do turismo realizado na última sexta-feira, o presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, 98% dos custos jurídicos são pagos no Brasil. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) já apontou que o país é recordista mundial em processos contra companhias aéreas.

Apesar de todas essas questões, as empresas aéreas afirmam que a média das passagens deve ficar abaixo dos preços do período de pré-pandemia.

A Petrobras afirma que o querosene de aviação (QAV), assim como os demais combustíveis derivados de petróleo, é um produto com pouca diferenciação e comercializado internacionalmente em larga escala e deve refletir adequadamente os respectivos custos de oportunidade, assim como as outras commodities.

“No caso específico do QAV, o custo de oportunidade é traduzido pelo preço de paridade de importação (PPI). Desta forma, os preços praticados pela Petrobras para as distribuidoras de QAV no Brasil acompanham os movimentos do mercado internacional, aplicando-se a taxa de câmbio para conversão e comercialização do produto em reais no Brasil”, explica a Petrobras.

Muitos devem optar pelo ônibus

O setor do turismo já vem tendo reações importantes neste segundo semestre. De acordo com o Ministério do Turismo, a movimentação econômica do setor registrou, no mês de agosto, um crescimento de 4,6% frente ao mês anterior – quarta taxa positiva seguida. Entre maio e agosto o acúmulo já aponta uma alta de 49,1%.

Para o professor Paulo Casaca, as passagens aéreas mais caras devem retardar a retomada plena do setor de turismo, mas isso não quer dizer que as pessoas vão deixar de viajar. Elas vão acabar optando por carro ou ônibus. “Dessa forma, alguns pontos do país serão mais afetados do que outros. Você pode até pegar o carro para ir para o sul da Bahia, mas dificilmente vai animar a dirigir até Natal. As cidades ao norte do Nordeste tendem a ser mais impactadas do que as que estão mais próximas do turista do Sudeste”.

Fonte: O Tempo

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