As transições de florestas para pastagens, por meio do desmatamento, somam 24 mil km² por ano na Amazônia. As mudanças na paisagem fazem com que a riqueza de espécies de quase todos os grupos de biodiversidade diminua entre 18% e até 100%. Os resultados estão em um estudo conduzido pelo Instituto de Ciências Naturais da Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul de Minas.

O desmatamento para pastagens também reduz os estoques de carbono e altera as propriedades do solo, mostra o trabalho, publicado recentemente na Academia Nacional de Ciências do Estados Unidos. Os impactos ecológicos foram analisados em duas regiões do Pará – Santarém e Paragominas.

“As modificações incluem desmatamento e degradação de florestas primárias, por exemplo, através de corte seletivo e fogo. Mas até mesmo as paisagens desmatadas estão mudando à medida que o abandono das terras agrícolas leva à regeneração das florestas secundárias. Como resultado, muitas paisagens tropicais hoje são um mosaico de usos do solo não florestais, florestas secundárias regenerando e florestas primárias degradadas”, explica o pesquisador da Ufla Cássio Alencar Nunes.

“Nossos resultados enfatizam mais uma vez a importância de combater o desmatamento. No entanto, alcançar isso exigirá transformar a maneira como a Amazônia é gerenciada atualmente, incluindo uma integração muito maior entre ciência, política e práticas locais”Jos Barlow – professor de Ciências da Conservação da Ufla

A pesquisa internacional foi liderada por ele e contou com a participação do professor Jos Barlow, ambos da Ufla, de membros do Departamento de Ecologia e Conservação e de pesquisadores da Lancaster University, do Reino Unido.

Para a pesquisa, foram coletados dados em 310 locais. Os pesquisadores focaram em como as mudanças afetam a biodiversidade, examinando mais de 2 mil espécies de árvores, cipós, aves e insetos. Também foram utilizados dados já publicados sobre o quão rápido a paisagem mudou na última década, entre 2006 a 2019.

Conforme o relatório, as transições de floresta para agricultura mecanizada tiveram o maior impacto ecológico, mas ocorreram menos frequentemente do que as conversões de floresta para pastagens.

“O desmatamento de florestas primárias para criação de pastagens é a mudança de uso do solo mais prejudicial na Amazônia brasileira. Isso ressalta a importância crítica e urgente do combate ao desmatamento, que vem aumentando nos últimos anos”, comenta o pesquisador.

O estudo também revelou a importância de proteger as florestas secundárias e permitir que elas amadureçam. Os pesquisadores notaram que a diversidade de árvores grandes dobrou e a de árvores pequenas aumentou em 55% quando essas florestas atingiram mais de 20 anos, trazendo ganhos de biodiversidade e armazenamento de carbono.

Os pesquisadores também descobriram que a mudança entre os tipos de agricultura e de pastagem de gado para agricultura mecanizada mais intensiva diminui a biodiversidade. A diversidade de formigas e pássaros, por exemplo, diminuiu em 30% e 59%, respectivamente.

“Essas são descobertas importantes, pois mostram que há uma infinidade de ações que podem ser tomadas para proteger e melhorar a ecologia da Amazônia. Nossa análise ajuda a definir e priorizar as ações locais e regionais necessárias para estimular uma Amazônia melhor”, destaca Cássio.

Fonte: Hoje em Dia

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