Um relatório redigido por cinco experts independentes contratados pelo Tribunal de Grande Instância de Paris é avassalador sobre as responsabilidades da Airbus e da Air France no acidente do voo 447. A aeronave partiu do Rio de Janeiro e seguiria até Paris. No entanto, caiu no meio do oceano Atlântico, na noite de 31 de maio de 2009, matando as 228 pessoas a bordo.
No documento, redigido antes da descoberta das caixas-pretas e só revelado ontem, os peritos afirmam que os pilotos não tinham treinamento específico nem informação para enfrentar a falha dos sensores de velocidade. O documento foi obtido pelo jornal Libération. Além disso, os procedimentos recomendados pela Airbus foram considerados difíceis de aplicar. Com base nessas considerações, a juíza de instrução do caso, Sylvia Zimmerman, abriu processo de homicídio involuntário contra a Air France e a Airbus.
Nesta sexta-feira (27), o Escritório de Investigações e Análises da França (BEA, na sigla em francês) divulgou relatório parcial baseado na análise das caixas-pretas encontradas no início do mês. Os pilotos do voo 447 tiveram problemas com leituras diferentes da velocidade da aeronave. Apesar de seus esforços para controlar o avião, ele perdeu velocidade e caiu em três minutos e meio, a 200 km/h. Especialistas sugerem que os sensores teriam congelado. Após o acidente, a Air France substituiu os equipamentos (tubos de Pitot) nos Airbus 330 e 340.
O BEA não tenta identificar a causa do acidente nem atribuir responsabilidades: é apenas a descrição da cadeia de eventos. O relatório revelou ainda que o capitão, Marc Dubois, estava fora da cabine em um intervalo normal de descanso quando os problemas começaram. O BEA divulgará novo relatório parcial em julho.
Reação do comando foi errada
A decisão dos pilotos do voo 447, cujo avião caiu no oceano Atlântico em 2009, quando seguia do Rio para Paris, de inclinar o nariz do avião para cima após a pane, como aponta o relatório preliminar sobre a queda do voo 447, divulgado ontem pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), teria agravado a perda de sustentação da aeronave. Segundo Carlos Ari Germano, ex-piloto da Rio Sul, se o avião não tiver velocidade, puxá-lo para cima é pior. O avião perdeu a sustentação quando perdeu velocidade. Se você puxar (para cima) o nariz, como eles fizeram, numa situação dessas, é pior, pois ele perde energia e o ar não consegue sustentar a aeronave, explicou Germano.
Em entrevista ao site G1, o presidente da Associação Brasileira de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, George Sucupira, explicou que a tendência do piloto quando o avião está em estol (perda de sustentação) é jogar o nariz da aeronave para baixo, ganhando assim velocidade e conseguindo obter a sustentação.
O piloto percebeu que as velocidades informadas estavam erradas e achou que, para evitar o estol, talvez por achar que a velocidade estava aumentando ou que o nariz estava baixo, pode ter colocado o nariz para cima, disse Sucupira.
O comandante de Boeing Élnio Borges, que integra uma associação de pilotos, também apontou, em entrevista ao G1, que a reação imediata, quando há perda de velocidade em situações de estol, é abaixar o nariz da aeronave, para ganhar velocidade. Ele aponta outros fatores que podem ter interferido na tragédia. Segundo o BEA, só os dois copilotos estavam no local, e o comandante, descansando.
O jornal francês Le Monde também fala sobre a decisão dos pilotos de inclinar para cima o nariz da aeronave. De acordo com um especialista ouvido pelo jornal, mas que não é identificado, isso é quase inexplicável. Segundo o periódico, o relatório do BEA sugere que, diante das indicações erradas de velocidade, os pilotos teriam cometido um erro.
O ex-piloto Carlos Ari Germano acredita ainda que houve uma possível má avaliação dos copilotos da aeronave, o que teria levado o Airbus a entrar numa área de instabilidade, o que acabou desencadeando o acidente. Pelo que eu entendi, e isso é apenas uma suposição, basicamente eles entraram numa área de grande instabilidade, numa grande altitude, e os pitots teriam congelado, o que causou a perda de informações e do sistema automático do Airbus. Acrescido a isso, vários alarmes começaram a soar, o que pode ter feito com que os pilotos não percebessem que a aeronave estava perdendo velocidade, disse, lembrando que o comandante não estava na cabine quando o problema começou. Eles tiveram que tomar uma decisão. E não avaliaram corretamente a intensidade da área de instabilidade, que foi atípica para aquela região. O comandante, que era o mais experiente, não estava lá para contornar essa situação.
Germano, no entanto, acredita que é preciso verificar também os motivos dessa decisão de não fazer o desvio que foi feito pelas aeronaves que passaram pela rota pouco depois do voo 447. Na minha maneira de ver, o ponto focal da investigação é por que a tripulação entrou naquela área e não optou por fazer o desvio.

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