O cabo da Polícia Militar William de Paula foi absolvido, por 4 votos a 3, da acusação de homicídio duplamente qualificado (com uso de arma de fogo e quando não há chance de defesa para a vítima) do menino João Roberto, de 3 anos. O garoto morreu em julho deste ano, na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
A sentença foi lida no início da madrugada desta quinta-feira (11) pelo juiz Paulo de Oliveira Lanzellotti, no 2º Tribunal do Júri da Capital, no Centro da cidade. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) informou que vai recorrer da decisão.
De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), o policial, que também respondia pelas tentativas de homicídio da mãe de João Roberto, Alessandra Soares, e do irmão do menino, Vinícius, foi condenado, no entanto, a um ano de prestação de serviços comunitários por lesão corporal leve.
No depoimento que começou às 13h20, o policial contou que no dia 6 de julho estava na área do Grajaú e Morro dos Macacos, na Zona Norte, quando ouviu um chamado pelo rádio, pedindo reforço nas proximidades da Rua José Higino. Ao chegar, junto com o soldado Elias, que dirigia o carro, ele viu um Fiat Stilo preto ultrapassando um sinal de trânsito na Rua Uruguai, e decidiu segui-lo.
De acordo com o PM, os suspeitos atiraram contra o carro da polícia e eles revidaram, dando início a um tiroteio. A perseguição seguiu pela Rua General Espírito Santo Cardoso onde, segundo o cabo, o fuzil falhou. Por isso, eles diminuíram a velocidade.
Ao trocar o carregador da arma, ele viu um carro parado. Willian de Paula disse que saiu do carro e efetuou um disparo de advertência, que atingiu um carro parado na rua. Segundo ele, um segundo disparo foi feito na direção do pneu.
O cabo admitiu que durante a troca de tiros é possível que o carro da Alessandra Soares (mãe de João Roberto) tenha sido atingido. Mas ressalta que só efetuou dois disparos, porque achou que fosse o veículo dos suspeitos. Mais cedo em depoimento Alessandra negou que tenha ocorrido perseguição.
Os advogados de defesa questionaram sobre o preparo do policial, que afirmou estar há três anos sem cursos de reciclagem. Ele disse ainda que tinha recebido instruções de abordagem, mas concorda que o trabalho na prática é bem diferente.
Mãe depõe
A mãe do menino João Roberto, Alessandra Soares, prestou depoimento durante uma hora. Grávida, ela contou que apenas escutou disparos quando se abaixou dentro do carro depois de ter dado passagem à viatura da polícia, na ocasião do crime. Após a cena, ela percebeu que era o alvo dos agentes.
Alessandra disse também no depoimento que o marido, o taxista Paulo Roberto Barbosa Soares, não consegue mais trabalhar direito desde o episódio.
Abordagem dos policiais não foi correta
O segundo depoimento foi o do tenente-coronel Rogério Leitão, Relações Públicas da PM. Ele disse que pelo manual da corporação a abordagem dos policiais ao carro suspeito não foi correta. Os PMs não deveriam ter efetuado disparos de arma de fogo em um alvo desconhecido, já que não havia identificação de quem estava no veiculo.
?Ainda que os ocupantes fossem identificados o cerco deveria ter sido feito de outra maneira e sem utilizações de arma, já que a rua onde aconteceu o fato é de movimento? explicou o tentente-coronel.
Antes do depoimento foi exibido um vídeo da câmara de segurança de um prédio da rua, que mostra os PMs atirando no carro de Alessandra.
Camiseta do filho
O julgamento começou com cerca de uma hora de atraso. A demora ocorreu porque a mãe de João Roberto teve que sair para trocar a blusa que usava homenageando o filho para poder prestar depoimento.
A mulher do policial, Glaucia Benedita de Paula, também esteve presente com uma blusa com a foto do marido. Ela afirmou que respeita a dor da família do menino.
O que houve foi uma fatalidade durante uma perseguição policial numa rua escura. Meu marido trabalha há 10 anos como policial, e ele não saiu de casa naquele dia com o intuito de matar uma criança, disse ela.
Como foi o caso
João Roberto foi atingido por três tiros ? sendo um deles na cabeça ? dentro do carro da mãe, na noite do dia 6 de julho, na Rua General Espírito Santo Cardoso, na Tijuca, Zona Norte. Alessandra voltava para casa com João e Vinícius, então com 9 meses, quando parou seu carro para dar passagem à patrulha da PM. Os policiais disseram na época que teriam confundido o carro de Alessandra com o carro de criminosos (um Fiat Stillo) que estavam perseguindo e atiraram.
O julgamento do outro PM também suspeito na morte de João Roberto ainda não foi marcado.

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