Entre os anos de 2011 e 2015, os pátios de parqueamento que serviam à Fiat Automóveis foram alvos de inúmeros furtos de mais de 35 mil chaves-canivete. Isso custou às empresas que fazem gestão desses pátios cerca de R$ 33 milhões para conseguir fazer a reprogramação dos veículos, já que para voltar a ligar os carros, era preciso a recodificação de uma nova chave.

Os custos por causa desses roubos ainda impactaram em pagamentos de horas-extras e outras despesas dos mais variados tipos. Para uma dessas operadoras, a Sada Transportes, sempre foi um desafio tentar descobrir qual era, de fato, o pano de fundo desses roubos, pois essas chaves não tinham valor de mercado já que, simplesmente, não poderiam ser reprogramadas e nem reutilizadas.

A suspeita, na época, era a de que os objetos eram revendidos no mercado paralelo, porém, essa hipótese se esbarrava na ausência de compradores. Quem, afinal, teria o interesse de comprar uma chave que não poderia abrir nada? A versão também era fortemente contestada pelo fato de que outras chaves, de marcas diferentes da Fiat, não chamavam a atenção dos ladrões. O mistério perdurava.


De acordo com a assessoria de imprensa da Sada Transportes, em valores atualizados, as cerca de 35 mil chaves roubadas geraram à empresa um prejuízo estimado em R$ 30 milhões durante os quatro anos em que o esquema funcionou. O conjunto de duas chaves, cujo fornecimento é uma obrigação das fabricantes de carros, custa cerca de R$ 950 por veículo produzido.

Fio da meada

O mistério que envolve o caso começou a ser revelado em 2014, quando, em tentativa de roubo de veículos em um desses pátios de parqueamento, um dos criminosos foi alvejado por disparos durante tiroteio entre bandidos e a segurança corporativa da empresa. Gravemente ferido, o assaltante teve que ser levado para uma unidade de pronto-socorro de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Ao ser identificado pela polícia, a identidade do criminoso ferido e de parentes que o acompanhavam caracterizaram íntimas ligações com integrantes de uma quadrilha que roubava carros de luxo e atuava na clonagem de veículos novos. 


Dois anos depois, em 2016, esse esquema foi desbaratado por uma investigação policial, que conseguiu recuperar mais de 80 veículos na cidade de Pedro Leopoldo e em outros endereços de Belo Horizonte.


Em Pedro Leopoldo, mesma cidade onde os carros roubados foram encontrados, a polícia recuperou também milhares de chaves da marca Fiat, todas elas guardadas em um depósito operado pela quadrilha. Porém, somente nos últimos meses, por causa de um desentendimento entre participantes desse esquema, a verdade sobre o roubo das chaves passou a ser compreendida.

Ex-presidente do sindicato de cegonheiros do ES era operador do esquema, diz fonte

Para cada chave roubada, os ladrões recebiam a quantia de R$ 20. Posteriormente, essas chaves, como explicaram testemunhas oculares desses crimes, eram destruídas ou simplesmente jogadas dentro de rios. Restava saber qual era a motivação desses golpes. 


Uma alta fonte da Polícia Civil, que a reportagem não irá identificar por razões de segurança, explicou que os roubos tinham por trás o ex-presidente dos cegonheiros do Estado do Espírito Santo, Roberto Augusto Francisco, que recrutava e remunerava manobristas que trabalhavam em pátios da Fiat para roubarem as referidas chaves.

Mas, segundo esse policial, Roberto Augusto não agia unicamente com interesses próprios. Ele tinha um mandante, que, agora, começa a ser desvendado. 

Mandante

O mandante, que já está no centro das investigações, muito mais do que o interesse nas chaves, tinha por motivação algo muito maior. Todo o esquema, como apontam as investigações, era parte de uma estratégia para criar problemas entre a montadora e as empresas encarregadas de armazenar seus veículos. 

Com isso, esse mandante, identificado como um grande empresário de fora do Estado, poderia se aproveitar do desgaste da relação da operadora com a Fiat e se propor como substituto da empresa atual. Até aqui, as investigações, conduzidas pela Polícia Civil de Minas Gerais, já levantaram muitos detalhes sobre o esquema da quadrilha e, agora, estão arrematando provas ainda mais robustas que, finalmente, poderão conduzir ao verdadeiro responsável por todos esses crimes, já que o operador do esquema, Roberto Augusto Francisco, morreu ainda no fim do ano de 2020.

Crime antigo

Prisão

Em abril de 2014, um homem foi preso em uma feira de veículos localizada no bairro Santa Maria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Ele estava revendendo chaves codificadas por R$ 50. À época, ele relatou à Polícia Militar que roubava, havia dois meses, em média, 50 chaves por dia.

Estratégia

O detido, era funcionário de uma empresa que presta serviços para montadoras. Ele simulava que o veículo tinha ficado sem gasolina quando ia transportá-lo e se aproveitava da distração dos outros empregados para furtar as chaves, que eram jogadas no mato.

Fonte: O Tempo

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