Ao chegar à metade de seu terceiro mandato, o presidente Lula optou pelos imperativos do calendário eleitoral. O discurso de responsabilidade fiscal que marcou os primeiros meses do governo foi substituído por ações com apelo popular. A prometida continuidade da reforma tributária, por exemplo, deu lugar à proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, evocando a mesma lógica publicitária que marcou os pacotes de desoneração do primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Assim como no caso de Dilma, medidas de apelo imediato são apresentadas. A criação da linha de crédito consignado para trabalhadores celetistas e a proposta de isenção de contas de luz para 60 milhões de brasileiros repetem a fragmentação decisória e o voluntarismo político que marcaram a fase pré-crise do governo petista anterior. Na época, o congelamento de tarifas e as manobras fiscais não só minaram a credibilidade do governo Dilma como pavimentaram o caminho para sua queda.

Esse movimento atual ocorre em meio à perda de apoio popular e à inflação persistente, sobretudo nos alimentos. Tal qual nos anos finais de Juscelino Kubitschek, quando o desenvolvimentismo se chocou com o custo crescente da inflação, o cenário de Lula hoje é de crescimento e de esgotamento fiscal.

Há uma diferença estratégica. JK apostava no futuro, ainda que a crédito. Lula, por sua vez, mira o presente político imediato, guiado por pesquisas de opinião. Ambos compartilham a crença de que o crescimento justifica os riscos fiscais, o que, historicamente, mostrou-se um cálculo frágil.

Por sua vez, a oposição, mais uma vez, desempenha um papel ambíguo. Nos anos 1950, a UDN aprovou o plano de Metas e a construção de Brasília de olho no desgaste político de JK. Hoje, partidos de oposição adotam lógica semelhante: aprovam medidas de apelo popular propostas pelo governo, com o cálculo de que o descontrole fiscal resultará em inflação, perda de credibilidade e, em última instância, enfraquecimento do governo. Trata-se de uma estratégia de sabotagem silenciosa.

Diante disso, é necessário observar com atenção não apenas quando a oposição crítica, mas também quando aplaude. As críticas, em um cenário tão polarizado, devem ser analisadas com responsabilidade, para distinguir aquelas que de fato contribuem para o debate das que visam apenas a deslegitimar.

A história recente reforça a repetição do ciclo de irresponsabilidade fiscal camuflada de política social, medidas improvisadas em vez de reformas estruturais, uso do marketing no lugar de planejamento.

A história mostra que quem adia os ajustes inadiáveis acaba pagando um preço alto. E quem subestima a sensibilidade do eleitor à inflação dos alimentos invariavelmente perde apoio. Reconciliar responsabilidade fiscal com justiça social não é tarefa impossível e exige coragem para enfrentar os problemas de frente e disposição para romper com o ciclo de curto prazo que sabota o futuro do país.

 

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