Mesmo sendo excelentes nadadores e capazes de viver em diferentes tipos de clima, os pinguins nunca foram vistos, de forma natural, no Hemisfério Norte, nem mesmo como fósseis. Essa espécie habita desde as regiões geladas da Antártida até áreas tropicais, como as Ilhas Galápagos, mas fica restrita a regiões no Hemisfério Sul. Essa distribuição curiosa foi tema de um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) publicado no Journal of Biogeography.

Para o artigo, dados de 17 espécies de pinguins ao redor do mundo foram colhidos. A partir disso, os pesquisadores utilizaram modelos ecológicos para simular onde eles poderiam viver com base em três fatores principais: temperatura, produtividade dos oceanos (ou seja, a quantidade de alimento disponível) e acessibilidade física das regiões. A história evolutiva dos pinguins também foi analisada. O objetivo foi verificar se as preferências ambientais da espécie foram herdadas de ancestrais.

Deserto oceânico

Os pesquisadores descobriram que, apesar de existirem locais apropriados para os pinguins no Hemisfério Norte em alguns pontos isolados, como a costa da Califórnia e partes do Japão e da Rússia, uma espécie de barreira divide os pontos Sul e Norte do globo: a zona tropical.

A faixa funciona como uma espécie de ‘deserto oceânico’, o que impede qualquer tentativa de travessia. A região é quente demais e pobre em alimentos para os pinguins.

De acordo com o estudo, a espécie até poderia viver no hemisfério norte, mas essa barreira impede que eles cheguem até lá.

Preferências ambientais

Outra importante descoberta do estudo foi que os pinguins conservam suas preferências ambientais ao longo do tempo. Assim, mesmo que sejam capazes de viajar longas distâncias, eles tendem a permanecer em ambientes semelhantes aos ocupados por seus antepassados.

O fenômeno é chamado de ‘conservação frenética de nicho’ e se refere à tendência que as espécies têm de manter algumas características ecológicas herdadas. Um exemplo seria a preferência por águas frias e ricas em alimentos.

Preocupação com o aquecimento global

Em um mundo em transformação, esse comportamento conservador dos pinguins podem ter consequências importantes. É o que os pesquisadores alertam. Isso porque, com o aquecimento global, os hábitats que os pinguins ocupam podem mudar ou até desaparecer.

“Em resumo, a ausência dos pinguins no Hemisfério Norte é explicada não só por barreiras físicas e climáticas, mas também por limitações herdadas ao longo de sua evolução. Compreender essas restrições nos ajuda a prever como esses animais podem (ou não) responder às mudanças em curso no planeta e reforça a urgência de proteger os ambientes marinhos que eles ainda conseguem chamar de lar”, conclui Amanda.

 

Fonte: Rebeca Nicholls-Itatiaia

 

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