O racionamento de água afetou quase um quarto (23%) dos municípios brasileiros em 2008, revela o Atlas de Saneamento, divulgado nesta quarta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 41% dessas cidades, o racionamento é constante. Entre os motivos, predomina seca ou estiagem. Dos 528 municípios com racionamento constante, independente da época do ano, 396 (75%) são na região Nordeste.
Os dados informados pelos municípios haviam sido divulgados em 2010 no lançamento da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008. Nesta quarta, o IBGE lançou um atlas contendo uma leitura territorial dos dados.
A distribuição de água tem melhorado no país, é importante salientar isso. Mas o racionamento ainda é um problema sério em muitos municípios, principalmente na região do semiárido, diz o pesquisador do IBGE José Guilherme Cardoso Mendes, lembrando que o Brasil é o país com a maior quantidade de recursos hídricos do mundo. É um contra-senso.
Pernambuco é o Estado com o maior número de municípios (111) que informaram ter racionamento constante. Além das cidades afetadas pelo problema em qualquer época do ano, o IBGE também indica aquelas que informaram conviver com o racionamento em períodos de seca. Núcleos de desertificação existem no Nordeste. O que chamou a atenção foi o número de casos na região Norte, provavelmente provocados pelo avanço do desmatamento e problemas climáticos, avalia Mendes. Lá, 43 municípios informaram sofrer racionamento provocado pela seca.
O IBGE também mostra, por outro lado, que se perde muita água no país em função de vazamentos entre a captação e a chegada ao consumidor, especialmente nas grandes cidades. Entre aquelas com mais de 100 mil habitantes, 60% apresentaram de 20% a 50% de perda. Já nas cidades com população inferior a 100 mil, a perda fica em torno de 20%.
O volume diário de água distribuída per capita no País foi de 0,32 metros cúbicos em 2008, correspondente a 320 litros, um aumento de 0,12 metros cúbicos em relação a 1989. Na região Sudeste, o volume distribuído chegou a uma média diária de 0,45 metros cúbicos per capita em 2008, a mais alta do País.
O IBGE preparou uma lista com os 25 municípios que tiveram inundações na área urbana nos 5 anos anteriores à pesquisa e que apresentavam os oito fatores considerados agravantes para o problema. Doze são da região Sudeste (em SP, Ibiúna e Ilhabela), cinco ficam no Nordeste, quatro no Sul, três no Norte e um no Centro-Oeste. São fatores agravantes obstrução de bueiros; obras inadequadas; ocupação intensa e desordenada do solo; lençol freático alto; interferência física no sistema de drenagem; dimensionamento inadequado de projeto; desmatamento; e lançamento inadequado de resíduos sólidos.
De acordo com o estudo, 90% dos municípios brasileiros não possuíam, em 2008, formas de conter a água das chuvas. Por isso, 2.274 cidades (40,8%) sofreram com inundações na área urbana, sendo que 698 (30,6%) tiveram enchentes em áreas que não são usualmente inundáveis, informa o IBGE.
Esgoto
O município de Rafael Godeiro (RN), que apresentou a maior taxa de internação por diarreia no país em 2008 (6,8 ocorrências por 100 habitantes), não tinha serviço de coleta de esgoto. Nos estados com as maiores taxas de internação, o acesso a serviços de saneamento é menor, e vice-versa.
As taxas de internações por doenças relacionadas com o saneamento ambiental inadequado (DRSAI), como diarreias, dengue e leptospirose, vêm se reduzindo no país nas últimas décadas, mas ainda são elevadas, sobretudo em estados das regiões Norte e Nordeste, destaca o IBGE. São doenças evitáveis se houver investimento em saneamento e ações preventivas, segundo o órgão.

COMPATILHAR: