Donas de uma dívida total de R$ 2 bilhões, as 323 Santas Casas e hospitais filantrópicos de Minas Gerais passam por uma crise financeira inédita. Grande parte das unidades trabalha no vermelho e não consegue pagar os salários de funcionários e fornecedores, o que já obrigou muitas delas a fechar as portas ou suspender parte de seus serviços. E esse fechamento total ou parcial das unidades pode gerar uma sobrecarga em instituições maiores, principalmente no interior, em uma espécie de efeito dominó, piorando ainda mais o atendimento à população.

?Sem dúvida, essa é a maior crise vivida pelas Santas Casas?, analisa Gustavo Henrique Penno Macena, superintendente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federassantas), resumindo a atual situação financeira das instituições no interior do Estado.

Ele também revela a preocupação com as consequências da crise no sistema de saúde como um todo. ?Se uma Santa Casa de uma pequena cidade fecha, consequentemente, os pacientes vão buscar atendimento nos hospitais dos municípios vizinhos, gerando uma sobrecarga para essas instituições, que poderão fechar também?, explica.

E a importância dos hospitais filantrópicos se vê nos números. Eles foram responsáveis por cerca de 368 mil internações somente no primeiro semestre deste ano em Minas. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), esse número representa 59,6% do total de procedimentos do tipo realizados pelo poder público no mesmo período em solo mineiro.

Segundo Macena, a crise das Santas Casas no interior de Minas Gerais teve início há aproximadamente cinco anos, por causa do atraso na entrega de recursos pelas secretarias de saúde municipais e estadual. Outro fator foi o atraso no repasse dos valores pagos às instituições pelo governo federal referentes aos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso, as unidades acabaram contraindo grandes dívidas, ficando obrigadas a recorrer a empréstimos.

?Atualmente, as instituições não conseguem quitar essas dívidas nem fazer novos empréstimos, já que também perderam o crédito que tinham com os bancos?, conta o superintendente.

Outra situação que colabora para a crise financeira das Santas Casas é o repasse do SUS pelos serviços realizados ? para ser considerada filantrópica, a instituição tem que realizar 60% dos procedimentos pelo sistema. O superintendente da federação afirma que a atualização da tabela de procedimentos do órgão, que acontece anualmente, é baixa e, por isso, não é suficiente para cobrir as despesas geradas por esses serviços.

Alternativa

Segundo Macena, é muito difícil falar em um número exato de Santas Casas que fecharam as portas nos últimos anos. ?Em 2013, Minas Gerais contava com 325 Santas Casas. Neste ano, o número caiu para 323. O que acontece, e que é muito grave, é que os hospitais estão reduzindo seus números de procedimentos ao invés de fechar as portas?, alerta.

Um dos casos mais recentes é o da Santa Casa de Ibiá, no Triângulo Mineiro. Sem dinheiro para realizar o pagamento dos médicos e com a intenção de reduzir gastos, a direção do hospital suspendeu os atendimentos eletivos ? aqueles que não têm caráter de urgência. Segundo Frederico Lopes Silva, diretor clínico da instituição, desde o dia 12 de novembro, nove médicos, entre clínicos, pediatras e cirurgiões, deixaram de trabalhar na unidade.

Para tentar reverter essa situação, a direção do hospital criou o grupo ?Amigos da Santa Casa?, em que interessados podem fazer doações, por meio de depósitos, para a instituição.

Repasses
Segundo a Constituição, os municípios devem gastar 15% da receita com o sistema de saúde. Já o governo estadual tem que destinar 12% da arrecadação para o setor.

COMPATILHAR: