Senado da Argentina rejeitou na madrugada desta quinta-feira (9) o projeto de lei que legalizaria o aborto no país. Após uma sessão de cerca de 16 horas, ele foi recusado no Senado por 38 votos contra, 31 a favor e duas abstenções.
Pela proposta aprovada pela Câmara e, agora rejeitada no Senado, seria possível interromper a gravidez durante as primeiras 14 semanas de gestação. O projeto previa também que o aborto fosse realizado em qualquer hospital ou clínica e obrigava o Estado a cobrir o custo do procedimento, dos medicamentos e dos tratamentos de apoio necessários.
A interrupção voluntária da gravidez é crime na Argentina, a não ser em casos de estupro e que ofereçam risco à vida da mãe. Nos demais casos, a prática é penalizada com até quatro anos de prisão para a mulher e para o médico.
Desde o fim da Ditadura Militar no país, em 1983, diversos projetos sobre aborto foram apresentados no Congresso argentino, mas esse foi o primeiro a ser votado.
Mobilização popular
Do lado de fora do Congresso, um forte dispositivo de segurança foi montado já que, durante todo o dia, milhares de pessoas a favor e contra a lei, se concentraram para acompanhar a votação, que já se anunciava disputada. Após a sessão, foram registrados incidentes na saída da multidão. Oito pessoas foram presas, segundo o jornal “El Clarín”.
Com a derrota no Senado, o projeto de legalização do aborto não poderá ser tratado novamente neste ano parlamentar. Uma nova proposta de legalização total só pode ser analisada pelos parlamentares a partir de março.
Aqueles que defendem a causa, no entanto, não se dão por vencidos e o mais provável é que apresentem um novo projeto para a descriminalização da prática. Desta forma, o aborto não se torna um direito garantido pelo Estado, como previa o projeto recusado nesta madrugada, mas a mulher que recorrer ao procedimento não estará mais cometendo um crime e não será presa.
O jornal “El Clarín” afirma que o presidente Mauricio Macri estuda enviar ainda esse mês uma ampla proposta de revisão do Código Penal ao Congresso. A expectativa é que esse texto aumente as situações em que o aborto é permitido e elimine a possibilidade de prisão para mulheres.
Polêmica
Em um país de forte tradição católica e conservadora, nenhum tema polarizou tanto os argentinos desde a aprovação do casamento gay em 2010. Pesquisas de opinião apontavam que o projeto que permitia a interrupção voluntária da gravidez era apoiado pela maioria.
Uma pesquisa feita pelo Centro de Estudos de Estado e Sociedade (Cedes) e pela Anistia Internacional Argentina, em março, apontava que 59% dos argentinos aprovavam a descriminalização do aborto, segundo a BBC.
Mas o projeto de lei enfrenta forte oposição de parcela significativa da população.
Outros países
Assim como a Argentina, o Brasil, que também discute a interrupção da gravidez nessa semana em audiências públicas do STF, é um dos muitos da América Latina que têm restrições à prática.
Em todo o mundo, o aborto é legalizado em 63 países e amplamente permitido em outras 13 nações, segundo um levantamento do Center for Reproductive Rights, ONG baseada nos EUA que trabalha para influenciar a formulação de políticas públicas pró-aborto. Por outro lado, 124 países proíbem a interrupção da gravidez totalmente ou com poucas exceções.
Dentre os locais em que a prática é legal, as regras variam quanto ao tempo da gestação. A maioria estipula o tempo máximo de 12 semanas de gestação para o aborto. Mas há casos, como Singapura, em que ele é permitido em até 24 semanas de gestação da mulher.
Países em que o aborto é legal
África do Sul | China | Itália | Romênia |
Albânia | Coreia do Norte | Kosovo | Rússia |
Alemanha | Croácia | Letônia | Sérvia |
Armênia | Cuba | Lituânia | Singapura |
Austrália | Dinamarca | Luxemburgo | Suécia |
Áustria | Eslováquia | Macedônia | Suíça |
Azerbaijão | Eslovênia | Moçambique | Tajiquistão |
Bahrein | Espanha | Moldávia | Tunísia |
Belarus | Estados Unidos* | Mongólia | Turquemenistão |
Bélgica | Estônia | Montenegro | Turquia |
Bósnia-Herzegovina | França | Nepal | Ucrânia |
Bulgária | Geórgia | Noruega | Uruguai |
Cabo Verde | Grécia | Porto Rico | Uzbequistão |
Camboja | Guiana | Portugal | Vietnã |
Canadá | Holanda | Quirguistão | |
Cazaquistão | Hungria | República Tcheca |
Fonte: Center for Reproductive Rights *Cada estado aplica a sua lei; maioria da população tem aborto legal
Outro grupo de 13 países tem leis que, na prática, funcionam de maneira semelhante aos que legalizaram a interrupção da gestação sem restrições. São nações que permitem o aborto caso a mulher argumente que não tem condições econômicas ou sociais para criar um filho. Entre esses países estão a Grã-Bretanha, a Índia e o Japão.
Países em que aborto é permitido por razões socioeconômicas e para preservar a saúde da mulher
Barbados | Grã-Bretanha | São Vicente e Granadinas |
Belize | Hong Kong | Taiwan |
Chipre | Índia | Zâmbia |
Fiji | Islândia | |
Finlândia | Japão |
Fonte: Center for Reproductive Rights
Porém, cerca de 39% da população mundial vive em países com restrições ou proibição total à prática. O Brasil está entre o grupo de 66 nações com mais restrições. Aqui, a interrupção da gestação é considerada crime, com pena de até três anos de prisão para a mulher, e é permitida apenas em três casos: se representar um risco à vida da mãe, em caso de estupro ou de anencefalia do feto.
Países em que o aborto é proibido, exceto se a mulher correr risco de vida
Afeganistão | Gabão | Malaui | San Marino |
Andorra | Guatemala | Mali | São Tomé e Príncipe |
Angola | Guiné-Bissau | Malta | Senegal |
Antígua e Barbuda | Haiti | Mauritânia | Síria |
Bangladesh | Honduras | México | Somália |
Brasil | Iêmen | Micronésia | Sri Lanka |
Brunei | Ilhas Marshall | Myanmar | Sudão |
Butão | Ilhas Salomão | Nicarágua | Sudão do Sul |
Chile | Indonésia | Nigéria | Suriname |
Cisjordânia e Faixa de Gaza | Irã | Omã | Tanzânia |
Congo | Iraque | Palau | Timor-Leste |
Costa do Marfim | Irlanda* | Panamá | Tonga |
Dominica | Kiribati | Papua Nova Guiné | Tuvalu |
Egito | Laos | Paraguai | Uganda |
El Salvador | Líbano | República Centro-Africana | Venezuela |
Emirados Árabes Unidos | Líbia | República Democrática do Congo | |
Filipinas | Madagascar | República Dominicana |
Fonte: Center for Reproductive Rights *Nova lei de aborto deve ser aplicada até o fim do ano
Há outro conjunto de 58 Estados em que a exceção à proibição do aborto é um pouco mais abrangente. Eles consideram não apenas o risco de vida da mulher, mas a preservação da sua saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde, por “saúde” entende-se não apenas a inexistência de uma doença, como o bem-estar físico, mental e social de um indivíduo.
Países em que é proibido, exceto para preservar a saúde da mulher
Arábia Saudita | Costa Rica | Lesoto | Quênia |
Argélia | Djibouti | Libéria | Ruanda |
Argentina | Equador | Liechtenstein | Samoa |
Bahamas | Eritréia | Malásia | Santa Lúcia |
Benin | Etiópia | Maldivas | São Cristóvão e Nevis |
Bolívia | Gâmbia | Marrocos | Serra Leoa |
Botsuana | Gana | Maurício | Seychelles |
Burkina Faso | Granada | Mônaco | Suazilândia |
Burundi | Guiné | Namíbia | Tailândia |
Camarões | Guiné Equatorial | Nauru | Togo |
Catar | Irlanda do Norte | Niger | Trindade & Tobago |
Chade | Israel | Nova Zelândia | Vanuatu |
Colômbia | Jamaica | Paquistão | Zimbábue |
Comores | Jordânia | Peru | |
Coreia do Sul | Kuwait | Polônia |
Fonte: Center for Reproductive Rights
Fonte: G1 ||
Receba as publicações do Últimas Notícias em primeira mão no nosso grupo do WhatsApp:
https://chat.whatsapp.com/DoD79bcrBLZIqK6nRN2ZeA