Pessoas solteiras correm mais risco de morrer por doenças cardíacas que pessoas casadas. Essa é a conclusão de um estudo desenvolvido por pesquisadores do Hospital Universitário de Würzburg, na Alemanha.

Conforme a pesquisa apresentada no final de maio no Heart Failure 2022 – congresso científico organizado pela Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) –, pacientes solteiros são menos confiantes no controle de sua condição de saúde e mais socialmente limitados em comparação aos casados, fatores que podem ter contribuído para a pior taxa de sobrevida observada no grupo.

Feito ao longo dos últimos anos, o estudo levou em conta 1.022 pessoas internadas entre os anos de 2004 e 2007 por insuficiência cardíaca descompensada. Desse total, 1.008 pacientes forneceram informações sobre o estado civil, 633 (63%) eram casados e 375 (37%) eram solteiros, incluindo 195 viúvos, 96 nunca casados e 84 separados ou divorciados.

Durante os dez anos de acompanhamento dos pacientes, 679 (67%) morreram. Após a avaliação dessas mortes, os pesquisadores puderam observar uma relação entre os óbitos e o estado civil dos pacientes estudados: os resultados mostraram que ser solteiro estava associado a maiores riscos de morte por todas as causas, inclusive, problemas cardiovasculares. Pacientes viúvos também apresentaram maior risco de mortalidade quando comparados ao grupo de pacientes casados.

Segundo o autor do estudo, doutor Fabian Kerwagen, as observações reforçam a importância do apoio social dado a pacientes que lutam contra doenças crônicas. No caso da pesquisa, ele avaliou que os cônjuges podem auxiliar na adesão aos medicamentos, além de encorajar e ajudar no desenvolvimento de comportamentos mais saudáveis – fatores podem contribuir com a maior longevidade desses pacientes.

Com mais de 30 anos de experiência em atendimento ambulatorial, o médico Jeffer Luiz de Morais, cardiologista do Hcor, em São Paulo, afirma que a pesquisa reflete uma realidade que também é observada no Brasil. “Na nossa prática diária, vemos claramente que os pacientes que estão sozinhos apresentam uma comorbidade maior. Fazem menos exercícios, têm descuidos maiores com a alimentação e com o peso”, afirma.

Este cenário demonstra que não apenas o papel dos cônjuges é importante, mas também o da família – principalmente no caso de pacientes que vivem sozinhos. “Ela tem uma participação fundamental para trazer as pessoas para perto, fazer questionamentos em relação a seus cuidados, ajudá-las a buscarem um médico. O núcleo familiar é de fundamental importância para alertar e evitar que as pessoas tenham um descuido com a saúde”, explica.

É essa, também, a conclusão do pesquisador responsável pelo estudo. Segundo o doutor Kerwagen, a conexão entre o casamento e a longevidade reforça a necessidade do apoio social para pacientes com insuficiência cardíaca. Por isso, ele sugere que profissionais de saúde considerem perguntar aos pacientes sobre seu estado civil e grupo social mais amplo e, ainda, que recomendem grupos de apoio à insuficiência cardíaca para preencher possíveis lacunas. “A educação é crucial, mas os profissionais de saúde também precisam aumentar a confiança dos pacientes em suas habilidades de autocuidado”.

Além da doença cardíaca 

Para a médica Danielle H. Admoni, psiquiatra na Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), a pesquisa pode fornecer conclusões também para outros tipos de cenários, já que ressalta a importância do suporte social para pessoas com doenças.

“Temos uma evolução muito grande quando a pessoa tem alguém com quem ela convive, que cuida dela. Se a gente for pensar em alguém que está sozinho, ele não tem alguém para dar essa atenção”, observa. Ela acrescenta ainda que, embora a pesquisa trate de pessoas casadas, ter alguém em casa, um companheiro ou companheira, já pode fazer a diferença. “É o que a gente chama de suporte familiar ou suporte social. Você ter amigos, uma rede que se preocupa com você e que cuida de você, é um favor preventivo para várias doenças, principalmente transtornos mentais”.

Fonte: O Tempo

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