Um ano e 10 meses depois de anunciar um grande projeto de expansão em Congonhas, na Região Central de Minas Gerais, que foi atropelado pela crise financeira mundial, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, confirmou ontem ao governador Aécio Neves a retomada de investimentos orçados em R$ 9,5 bilhões na cidade histórica e em Arcos, nos próximos cinco anos.
O pacote, que previa a construção da primeira usina produtora de aço da CSN no estado e uma unidade para transformar minério de ferro em pelotas, inclui agora também uma segunda pelotizadora, além da expansão da Mina Casa de Pedra e da construção de duas fábricas de matéria-prima para cimento em Arcos, já em andamento. O novo acordo firmado com o governo mineiro completa uma lista de 18 empreendimentos em Minas anunciados ou retirados das gavetas este ano, passada a fase mais crítica da turbulência na economia. Somam R$ 28,2 bilhões, que serão desembolsados até 2015 e deverão gerar 19.205 empregos em cidades de diferentes regiões.
Os projetos de maior peso são os dos setores de mineração e siderurgia, os mais afetados pela escassez de crédito e o abismo amargado nas bolsas de valores depois de setembro do ano passado. Steinbruch justificou o atraso do programa de ampliação da produção da CSN afirmando que seria uma irresponsabilidade tocar os planos no cenário anterior de forte queda do consumo no mercado internacional. Tentaremos antecipar o máximo possível para que, depois da obtenção das licenças, a construção da siderúrgica seja concluída talvez em 30 meses, afirmou.
Outra mudança de planos foi anunciada por Steinbruch: a companhia está negociando a entrada de um sócio no projeto da siderúrgica de Congonhas, que deverá absorver boa parte da produção futura de placas de aço e decidiu criar uma nova empresa para reunir os seus negócios em mineração que terá sede em Minas. A nova empresa, formada pelos ativos da Mina Casa de Pedra e os 60% de participação societária da CSN na mineradora Namisa, poderá abrir o seu capital ano que vem ou buscar sócios.
Esses investimentos são estratégicos na linha daquilo que defendemos, que é a agregação de valor ao minério extraído do nosso estado, disse Aécio. Para o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas, Sérgio Barroso, os investimentos anunciados ou retomados nos últimos sete meses mostram o caminho da recuperação da economia. Não podemos nos esquecer de que a China (maior parceiro comercial de Minas e do Brasil) está comprando muito mais e nós temos capacidade de continuar a fornecer produtos para a economia chinesa, afirma.
Os investimentos previstos para Minas configuram ma nova onda de investimento no país, na avaliação do economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César Souza. A expectativa se deve a um conjunto de fatores. Os fundamentos da crise foram preservados na crise, a taxa de inflação está controlada, as contas externas também, o emprego sofre com a turbulência econômica, mas menos que a produção, detalhou.
Para o economista do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, o cenário econômico estimula a retomada de investimentos, mas este não é um movimento generalizado. Muitos vão primeiro recuperar a capacidade ociosa para só depois investir. E isso não é imediato. Efetivamente, para criar um círculo virtuoso, os investimentos têm que dar um salto realmente significativo, disse.
Sarti acredita que a taxa de investimento, atualmente em 18% do Produto Interno Bruto (PIB), deve voltar ao nível pré-crise, que caminhava para 20%, daqui a noves meses pelo menos. Para ter crescimento sustentado, de 6% ao ano sem gerar gargalos, é necessário atingir uma taxa de 25%relativamente distribuída entre os setores.
Vale dobra lucro
A Vale começa a apresentar sinais de retomada depois da crise mundial. A mineradora apresentou lucro líquido de US$ 1,7 bilhão no terceiro semestre, ante US$ 790 milhões no segundo semestre do ano. De janeiro a setembro, o lucro líquido somou US$ 3,8 bilhões, ante os US$ 7,7 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. Os embarques de minério de ferro totalizaram 72,9 milhões de toneladas, com aumento de 35% em relação ao trimestre anterior.

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