Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo,

por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade,

por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil

enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era

que lutou pela democracia, pela liberdade de ser

e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente,

a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez

no julgamento da verdade, a negligência com a família,

célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação

com o “eu” feliz a qualquer custo, buscando a tal “felicidade”

em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir,

sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas

pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade

para reconhecer um erro cometido, a tantos “floreios” para justificar

atos criminosos, a tanta relutância

em esquecer a antiga posição de sempre “contestar”,

voltar atrás e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim, pois, faço parte de um povo que não reconheço,

enveredando por caminhos que não quero percorrer…

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra,

das minhas desilusões e do meu cansaço

Não tenho para onde ir, pois, amo este meu chão,

vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira

para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo

na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!

 

O trecho abaixo é de Rui Barbosa e vem sendo inserido no poema acima sem que se dê os créditos a autora Cleide Canton.

 

“De tanto ver triunfar as nulidades,

de tanto ver prosperar a desonra,

de tanto ver crescer a injustiça,

de tanto ver agigantarem- se os poderes

nas mãos dos maus,

o homem chega a desanimar da virtude,

A rir-se da honra,

a ter vergonha de ser honesto”

 

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