O tombamento do Centro Histórico de Pitangui, que entrou em vigor há 20 anos, estará novamente no centro das atenções da comunidade local neste sábado (19), durante uma escuta pública que terá o objetivo de compreender como a população lida com esse provimento e seus impactos. Ao longo dessas duas décadas, coligou-se a ideia de que há uma parte da cidade de Pitangui que deve ser mantida preservada por seu caráter histórico. Porém, uma parte considerável dos moradores da cidade não tem uma ideia muito clara do que significa o tombamento.

O evento é organizado pela Prefeitura, a partir de uma solicitação feita por um grupo de pitanguienses diretamente ligados ao tombamento. Os solicitantes partem da ideia de que a proteção legal de qualquer centro histórico, como foi o de Pitangui, é um processo que precisa ser continuamente aprimorado ao longo do tempo, tal como recomenda a Unesco. A instituição, que é ligada à Organização das Nações Unidas, sugere que os tombamentos passem por uma revisão a cada dez anos.

Foto: Comunicação de Fato/Divulgação

Tentativa de melhorar a aplicação da lei

O grupo que propõe a revisão do tombamento deixa claro que o que está sendo proposto não é o destombamento do Centro Histórico de Pitangui, mas o seu aprimoramento. A intenção é discutir a implementação de medidas que valorizem a área tombada, possibilitem aos proprietários dos imóveis os meios de arcarem com sua conservação e transformem o Centro Histórico em uma fonte de promoção do turismo e geração de emprego, trabalho e renda em Pitangui e em motivo de orgulho de todos.

Um dos membros da iniciativa é o jornalista Marcelo Freitas, autor do livro-reportagem “A Construção do Tombamento” (2012) e de um documentário de mesmo nome (lançado em 2025). De acordo com ele, a escuta pública será o primeiro passo nessa direção, trazendo a comunidade para ser ouvida.

Marcelo diz que o grupo trabalha no fortalecimento da democracia, da cidadania e do sentido de pertencimento. Estamos também colaborando para o efetivo avanço, em passos mais consistentes, do processo de construção do tombamento do Centro Histórico de Pitangui.

“O tombamento não é um processo pronto. É um processo em constante construção. Por isso é importante que os pitanguienses participem do evento tirando suas dúvidas e apresentando sugestões no sentido de aprimorar o tombamento como algo que possa gerar fluxo turístico, emprego, renda e, ao mesmo tempo, recursos para que os proprietários de imóveis tombados possam dar a adequada manutenção a estes bens ao longo do tempo” disse.

Casarão tombado amarga abandono

Um exemplo de como o tombamento do Centro Histórico de Pitangui não é levado a sério nem mesmo pelas autoridades que deveriam zelar por ele é o fato de o sobrado de arquitetura colonial com três pavimentos construído no começo do século 18 e que pertenceu à lendária senhora de escravos Maria Tangará estar abandonado e caindo aos pedaços.

Foto: Reprodução da internet

Telhado aberto, paredes rachadas, vidraças quebradas, luzes queimadas e muita poeira. Quando chove, a situação piora. A água, por exemplo, entra por todos os lados do casarão da lendária Maria Tangará. Enxurradas correm pelas escadas de madeira e o que resta depois é muita lama. As salas de aula onde gerações foram iluminadas pelo conhecimento agora estão às escuras e cheias de morcegos.

Teto caindo, janelas quebradas e piso destruído: situação atual de uma das salas de aula Foto: Reprodução da internet

Por causa dos perigos que todos esses problemas oferecem, incluindo riscos de acidentes elétricos, em 12 de abril de 2019 houve a transferência das turmas de alunos da Escola Estadual Professor José Valadares para a Escola Estadual Francisca Botelho. Ela fica a um quarteirão de distância.

Assim, a promessa de um possível restauro do casarão da lendária Maria Tangará manteve as expectativas da comunidade escolar. Mas, o não cumprimento do que havia sido prometido levou à extinção da Escola Estadual Professor José Valadares em 2020.

Esperança está em cessão de imóvel pelo Estado ao Município

Com o casarão histórico quase virando página do passado, o imponente imóvel colonial de três pavimentos foi doado pelo Governo de Minas à Prefeitura de Pitangui, que agora tem nas mãos a difícil missão de evitar que ele continue caindo aos pedaços.

Conforme o Portal Gerais informou em 9 de junho último, a escritura ainda não havia sido assinada porque o Município ainda aguardava recursos financeiros na casa de milhões de reais que teriam sido prometidos pelo governo estadual. Nesta quarta-feira (17) a reportagem solicitou atualizações sobre o caso a ambos, mas não obteve retornos.

Cartaz colocado quando casarão ainda abrigava educandário alertava para o perigo oferecido pelo que então era apenas uma janela estrada Foto: Mostra de Cinema de Pitangui

 

Fonte: Ricardo Welbert

 

 

COMPARTILHAR: