A morte de Tarcísio Meira, aos 85 anos, fez surgir nas redes sociais uma série de questionamentos sobre a eficácia das vacinas contra a Covid. Mas, desde o início da imunização, tem sido divulgado à população que, embora sejam muito eficientes para evitar casos graves da doença, nenhuma das vacinas oferece 100% de proteção. Por isso, mesmo os vacinados não podem deixar de lado as outras medidas de prevenção, como distanciamento social e uso de máscaras.

A eficácia de uma vacina depende de fatores individuais (a capacidade de um organismo de desenvolver anticorpos) e de fatores coletivos. Quanto mais pessoas vão sendo imunizadas, mais barreiras o vírus encontra e a transmissão vai se reduzindo. Ou seja, os brasileiros só poderão baixar a guarda quando a vacinação tiver alcançado quase todo o público-alvo. A Organização Pan-Americana de Saúde aponta como ideal para o fim da pandemia uma taxa de 90% da população imunizada.

De acordo com o infectologista Leandro Curi, os brasileiros viram doenças desaparecerem conforme a vacinação e sabem que esse é a forma mais importante e eficiente para que um vírus deixe de circular. “Nós ficamos duas décadas sem casos de sarampo porque fizemos uma vacinação muito efetiva nos anos 90. Em 2018, a doença voltou porque nossa cobertura vacinal já não estava boa. Isso mostra a importância da imunização em massa. Foi assim que nós erradicamos a varíola no mundo e erradicamos a poliomielite no Brasil”, afirma.

A vacina Coronavac, a mais aplicada entre idosos no país, tem sido alvo de críticas e muita gente na internet tem questionado sua eficácia. Mas Curi garante que esse imunizante é tão importante quanto os outros três usados no Brasil.

“Não existe vacina 100%. Temos que vacinar mais pessoas para erradicar o vírus. Quem dera se estivéssemos todos vacinados com Coronavac neste momento no país, estaríamos bem. Não temos que questionar a qualidade de uma marca, mas, sim, falar sobre a falta de vacinas”, diz o infectologista, acrescentando que não faz sentido os brasileiros compararem a qualidade entre as marcas de vacina sendo que todas são fundamentais para o combate à pandemia. 

Uma mostra de que a efetividade de uma vacina depende da porcentagem de imunizados em um local é o resultado do Projeto S, realizado na cidade de Serrana, no interior de São Paulo. Após a vacinação em massa de toda população adulta, houve uma redução de 80% no número de casos sintomáticos de Covid-19, de 86% nas internações e de 95% nos óbitos. No município, a pandemia foi controlada com 75% da população total imunizada.

Independentemente das vacinas utilizadas, para conter novas infecções, especialmente pela variante Delta, é fundamental que o país expanda sua vacinação. De acordo com o Ministério da Saúde, até agora, a primeira dose da vacina Covid-19 já chegou mais para mais de 108 milhões de brasileiros, ou seja, 68% da população acima de 18 anos. Cerca de 29% do público-alvo já está imunizado com as duas doses ou a dose única.

Possível dose de reforço

O Ministério da Saúde está realizando um estudo para verificar a necessidade de uma terceira dose para quem teve o esquema vacinal completo com Coronavac, o imunizante mais usado na população idosa – que não tem a mesma resposta para produção de anticorpos em relação aos mais jovens. Os 1.200 voluntários vão ser divididos em quatro grupos, recebendo doses de reforço de Coronavac, Pfizer, AstraZeneca e Janssen. A intenção é avaliar qual estratégia oferece a melhor imunização.

“Se teremos uma terceira dose ou vacinação anual contra a Covid, isso é algo para nos preocuparmos no futuro. O que temos de fazer hoje é completar o esquema vacinal de toda a população. Todos devem se vacinar pensando: estou fazendo um bem para mim e para os outros”, afirma Curi. 

Mas vale lembrar que todos os imunizantes possuem taxas de eficácia diferentes conforme a faixa etária ou o grau de transmissão do vírus numa população. Um estudo publicado em julho pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou que a taxa de efetividade para pessoas com esquema vacinal completo com Coronavac é de 79,6% para pessoas com 60 a 79 anos e de 68,8% em idosos com 80 anos ou mais. Quanto maior a idade, menor é a resposta à vacina por causa da imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imunológico.

O mais importante é que a vacina, de maneira geral, evita mortes por Covid. Levantamento feito por pesquisadores da USP e da Unesp indicou que apenas 3,68% das mortes registradas entre fevereiro e julho eram de pessoas com esquema vacinal completo.

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