Uma menina de 9 anos foi chamada de ladra por funcionárias da loja All Mini, do Shopping Del Rey, na região Noroeste de Belo Horizonte. O caso aconteceu no último sábado (25), quando a criança, acompanhada da irmã mais velha, de 23 anos, e de alguns adolescentes, passeavam no shopping. Essa é a segunda denúncia de racismo envolvendo o centro de compras em menos de dois meses.

De acordo com o pai das meninas, a família, que tem o hábito de ir ao local, foi à loja para que a criança comprasse uma buchinha de cabelo, no valor de R$ 7,99. Ao chegarem no estabelecimento, as duas perceberam que estavam sendo seguidas e observadas com “desconfiança” por parte dos funcionários.

“Minha filha está em fase escolar e aprendendo a contar dinheiro. Ela contou as notas e moedinhas, entregou o dinheiro para irmã mais velha e elas foram ao caixa pagar o produto. Depois de comprarem e receberem a nota, a funcionária falou que ela estava roubando joias e que ela era uma ladra”, contou.

Ainda segundo o pai das vítimas, assim que tudo aconteceu, as meninas ligaram para os pais, que foram rapidamente ao shopping. “Moramos perto, chegamos em menos de cinco minutos. Quando chegamos lá, a funcionária falou na cara da minha esposa ‘sua filha é ladra’. Ela disse que a viu colocar joias na mochila. Mas minha filha nem estava com mochila e a loja nem vende joias. Foi muito humilhante e constrangedor, foi na frente de todo mundo. Tinha outras crianças lá, mas só a minha, que é negra, foi humilhada dessa forma”, relata.

Segundo o Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, as funcionárias alegam que a mãe da criança teria agarrado uma funcionária pelo pescoço e rasgado sua roupa. Bem como o pai, que é um policial penal, teria sacado a arma e apontado para as funcionárias. O homem nega a agressão da esposa e disse que não ameaçou ninguém. Todos foram encaminhados à delegacia.

A Polícia Civil de Minas Gerais disse que vai analisar as imagens de segurança da loja. Segundo a instituição, o pai da menina e o gerente da loja foram ouvidos e liberados e que outras testemunhas devem ser ouvidas nos próximos dias.

Não me importa o que disseram, já vimos as imagens e está tudo claro, eles estão errados. Minha filha é vaidosa, ela adorava ir a essa loja comprar coisinhas de cabelo, batons e essas coisas que meninas gostam. Agora, não sei como será, tenho receio que ela fique traumatizada de ir ao shopping outra vez, que se sinta culpada, foi muito constrangedor”, afirma o homem. Segundo ele, a esposa está muito nervosa e sem condições de lidar com a situação.

“Dói muito ouvir coisas desse tipo sobre nossos filhos. Minha filha tem pai, mãe e muita educação. Ela nunca faria algo do tipo (roubar), e se fizesse, seria corrigida. Eu já sofri racismo na vida, mas ver minha filha sofrer, dói demais. Queremos justiça e vamos até o fim”, garante.

A loja All Mini foi procurada. Por telefone, uma funcionária da sede da loja em São Paulo disse que o estabelecimento está tomando ciência do ocorrido e que em breve vai dar o posicionamento sobre.

O shopping Del Rey, por meio de nota, informou que repudia toda e qualquer forma de discriminação e está à disposição para apoiar o trabalho de apuração das autoridades competentes.

O shopping disse ainda que logo que tomou conhecimento do fato, a equipe do shopping acompanhou seus desdobramentos, prestando apoio e as orientações necessárias aos clientes e colaboradores da loja. O empreendimento fez o registro interno da ocorrência para apuração e indicou que as partes fizessem o registro policial.

Shopping é palco de denúncias de racismo

Recentemente, outro caso de racismo foi relatado no estabelecimento. Em janeiro desse ano, três adolescentes negros, de 14, 15 e 16 anos, foram impedidos de entrar no shopping Del Rey, na região Noroeste de Belo Horizonte. A alegação do centro de compras é que existiria uma liminar permitindo a proibição da entrada de menores desacompanhados, entretanto, segundo a mãe de um dos garotos, no local foi possível ver adolescentes brancos entrando sem qualquer problema.

A família registrou um boletim de ocorrência. À época, a assessoria do shopping informou que uma medida liminar foi obtida após ser constatada uma mobilização nas redes sociais para realização de um “evento não autorizado com expectativa de grande volume de pessoas” no local.

Fonte: O Tempo

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