O dólar em 2024 está em alta e segue com ritmo para recompor seu valor depreciado nos últimos dois anos. Nesta quarta-feira (12), a moeda começou o dia a R$ 5,34, o que indica um aumento de 9,32% em relação à primeira medição feita no ano (em 2 de janeiro), quando o Banco Central (BC) indicava que a moeda norte-americana para compra estava a R$ 4,89.
penas em 2023, o dólar registrou uma queda de 8%. O avanço atual da moeda já indica uma recuperação de todo a desvalorização frente ao real no ano passado. Especialistas apontam que esse aumento acontece por uma série de fatores, entre eles a situação da taxa de juros nos Estados Unidos, conflitos externos espalhados pelo mundo e a necessidade do investidor em proteger seu dinheiro.
O dólar é visto como a principal moeda de proteção para os investidores. Em momentos conturbados ou de incertezas comerciais, eles retiram seus investimentos dos países emergentes e procuram a moeda norte-americana como “medida protetiva”, aumentando o seu preço e diminuindo o valor das outras moedas.
Outro fator determinante no valor da moeda é a definição da taxa de juros nos Estados Unidos. Atualmente, ela está definida entre 5,25% e 5,50%. Havia a expectativa da queda da taxa, o que não foi confirmado. Uma nova reunião nos próximos meses pode mudar o cenário econômico do país.
Para a economista e professora da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, a indefinição dos Estados Unidos quanto ao seu mercado interno pode medir a temperatura do cenário internacional. “Havia uma possibilidade do Banco Central norte-americano reduzir a taxa de juros da economia americana a partir da última reunião. A projeção era de que iniciaríamos o segundo semestre deste ano com a queda das taxas de juros lá e início não foi sinalizado. A manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos, está provocando uma depreciação cambial das moedas emergentes. Esse é o cenário internacional atual”, explica a professora.
O alta do dólar faz com o que o real tenha uma desvalorização frente ao mercado mundial. Com a saída dos investidores do país, a queda da moeda nacional faz o Brasil perder força frente a outros países. Apesar disso, as importações podem ser valorizadas. “Se essa desvalorização for temporária, ela é mais especulativa. Para o balanço de pagamentos, é um resultado positivo. Por outro lado, nenhum desenvolvimento de país algum é feito só com exportação. Precisamos de uma corrente de comércio, junto da importação. No primeiro momento só o mercado financeiro ganha com isso”, diz Carla Beni.
Ontem (11), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi divulgado e indicou que a inflação do país aumentou para 0,46% em maio. No ano, a inflação acumulada é de 2,27% e, nos últimos 12 meses, de 3,93%, ou seja, dentro da meta do governo de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Diogo Santos, economista do Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead), explica que há um impacto nos preços dos produtos nacionais com o atual cenário econômico. “A desvalorização do real tem um impacto sobre os preços, é um fator que pode fazer com que as empresas aumentem seus preços, principalmente se muito do material do seu processo produtivo, como no agro, for importado. Se o real está valendo menos, vai ter que gastar mais para importar, fazendo com que o custo de produção aumente. Essas empresas podem repassar o custo no preço final do consumidor”, explica.
Para o economista, apesar das exportações serem favorecidas no atual cenário, o Banco Central tem a possibilidade de agir para controlar as taxas. “O real desvalorizado faz com que as mercadorias produzidas no Brasil fiquem mais baratas no mercado internacional. Se o real está valendo menos, quando a mercadoria é exportada, ela é mais barata. Quando o real desvaloriza, gera uma proteção e favorece com que a indústria venda mais. Se a taxa de juros estivesse mais baixa, o BC poderia aumentar para evitar a saída de dólares e a saída da moeda, evitando a subida da inflação. Mas, como a inflação segue um pouco estável, então não é o momento em que a desvalorização vai gerar muito impacto da inflação”, conta Diogo.
Os especialistas apontam que, apesar do mercado ser instável, há a possibilidade de uma melhora no final do ano.
Fonte: O Tempo