No Decamerão, de Giovanni Boccaccio, três pintores florentinos buscam uma pedra mágica e chegam a Bengodi, um lugar utópico onde há uma montanha de queijo parmesão ralado e um rio de vinho Vernaccia. A cena, escrita no século 14 após a peste negra, reflete o desejo por abundância e alegria.

O queijo parmesão surgiu no século 12, entre Parma e Reggio Emilia, criado por monges beneditinos e cistercienses. Já era uma iguaria valorizada quando Boccaccio escreveu sua obra.

A origem do queijo, no entanto, é muito mais antiga. Estudos indicam que ele pode ter surgido entre 8 e 10 mil anos atrás, com evidências concretas de produção há cerca de 7 mil anos, encontradas em cerâmicas perfuradas na Europa. A mitologia grega e obras como a Odisseia também fazem referência ao processamento de leite semelhante à fabricação de queijo.

No Império Romano, o queijo era amplamente consumido. Plínio, o Velho, descreveu variedades e regiões produtoras, e o Pecorino Romano era usado pelas legiões por sua durabilidade — ainda produzido hoje com a receita original.

Em 2018, arqueólogos encontraram o queijo mais antigo já registrado: um exemplar de 3.200 anos em uma tumba egípcia, confirmando que os egípcios também produziam derivados lácteos.

Na Europa, o queijo se espalhou com os romanos e ganhou novas variedades na Idade Média, como o Gorgonzola (879 d.C.) e o Roquefort (1070). Os ingleses levaram o queijo para as Américas no século 17, e no século 19 já havia produção artesanal nos EUA.

No Brasil, o queijo chegou com os portugueses, que trouxeram gado leiteiro. A produção se intensificou no século 17, durante o Ciclo da Mineração, especialmente em Minas Gerais, onde surgiu o Queijo Minas Artesanal — hoje Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. O país também produz queijos típicos como o Coalho, Colonial, Serrano e requeijão.

Atualmente, há pelo menos 400 tipos de queijo catalogados, embora alguns estudiosos apontem mais de mil. No mundo idealizado por Boccaccio, talvez houvesse uma montanha para cada um — e a humanidade viveria feliz, pulando de queijo em queijo.

Com informações da Revista Galileu

 

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