No reino animal e vegetal, o cheiro pode ser uma ferramenta poderosa. Assim como o aroma de um pão quentinho desperta o apetite em humanos, algumas plantas usam odores para atingir objetivos bem específicos. É o caso da Vincetoxicum nakaianum, uma planta nativa do Japão que foi descoberta imitando o cheiro de formigas mortas ou feridas por aranhas para atrair moscas polinizadoras.
A descoberta foi feita por Ko Mochizuki, pesquisador da Universidade de Tóquio, e publicada nessa quarta-feira (24) na revista científica Current Biology. Trata-se do primeiro caso descrito de uma planta que utiliza o odor de formigas como estratégia de mimetismo floral — técnica em que plantas imitam odores para enganar outros organismos.
Descoberta acidental
O achado ocorreu de forma inesperada, enquanto Mochizuki realizava outra pesquisa. “Originalmente, coletei esta espécie apenas como ‘referência’ para comparação. Por acaso, notei moscas cloróides se reunindo em torno de suas flores no viveiro do Jardim Botânico de Koishikawa e imediatamente percebi que as flores poderiam estar imitando insetos mortos”, diz o autor, em comunicado.
Embora já existissem registros de plantas que imitam odores para atrair moscas, nenhum deles envolvia cheiro de formigas. Intrigado, o pesquisador iniciou observações detalhadas do comportamento das moscas ao redor das flores da V. nakaianum e comparou o odor da planta a aromas liberados por diferentes insetos. O resultado: o cheiro da flor era mais semelhante ao de formigas atacadas por aranhas.
Confirmando a hipótese com ajuda das redes sociais
Apesar da observação consistente, Mochizuki enfrentou a escassez de evidências científicas sobre moscas sendo atraídas por odores de formigas mortas. A solução veio de uma fonte inesperada: as redes sociais. Lá, ele encontrou registros de naturalistas amadores que documentaram moscas cleptoparasitas sendo atraídas por formigas feridas por aranhas.
A descoberta fortaleceu sua teoria. “Aquele momento, quando vi as moscas nas flores, foi realmente inspirador. Uma hipótese que de repente tomou forma. Essa experiência me ensinou que descobertas inesperadas muitas vezes surgem de uma combinação de preparação e acaso”, destaca o pesquisador.
Próximos passos
O trabalho de Mochizuki agora se volta a compreender o contexto evolutivo que conecta o mimetismo ao sistema de polinização dessas plantas. Além disso, ele pretende investigar outras espécies para descobrir novos mecanismos de mimetismo floral.
A pesquisa lança nova luz sobre como a interação entre plantas e insetos pode ser mais complexa — e engenhosa — do que se imaginava.
Com informações do Metrópoles