A pacata cidade de São Luiz, no Sul de Roraima, ganhou destaque nesta semana devido ao contrato de R$ 800 mil pelo show do cantor Gusttavo Lima, alvo de investigação pelo Ministério Público.

O município é o menor do estado e tem apenas dois hotéis para receber os turistas. Por conta disso, uma parte dos 8 mil moradores da região começou a planejar o aluguel da própria casa em meio a expectativa gerada pelo evento.

O show deve ocorrer em dezembro, na 24ª edição da vaquejada na cidade. Além de Gusttavo Lima, se apresentam na festa a dupla Cesar Menotti e Fabiano e a cantora Solange Almeida.

No Parque de Vaquejada, onde ocorrerá os shows, as estruturas estão cobertas por capim e a rodovia que passa em frente ao local, possui buracos e lama. De acordo com o portal g1, o prefeito da cidade, James Batista (SD), informou que “tudo será remodelado, tanto a entrada da cidade, como o Parque”. Informou ainda que o planejamento para receber o público “será divulgada em breve”.

São Luiz tem um PIB de R$ 147,6 milhões, o segundo mais baixo do estado, ficando atrás apenas de Uiramutã, enquanto Gusttavo Lima tem um dos cachês mais altos do Brasil, chegando a até R$ 1,2 milhão por show.

Um dos hotéis da cidade, o Veneza, possui 22 apartamentos e fica ao lado da Rodoviária da cidade. Já o Hotel Cristal, com 15 quartos, fica a apenas dois quarteirões de distância.

De acordo com o administrador do Hotel Veneza, Giovani Lopes, as expectativas são “enormes”.

“No Hotel Veneza, vamos nos preparar dentro das nossas condições. Eu já estou fazendo algumas modificações, acho que até dezembro vai ficar muito bonito o aspecto físico do hotel. A expectativa é da melhor, mas a cidade precisa se preparar para receber, pois é um mega show. O hotel vai fazer o possível”, conta o gerente.

Giovani acredita que apenas dois hotéis não serão suficientes para atender a todas as demandas do evento. A expectativa da prefeitura de São Luiz é que cerca de 100 mil pessoas passem pela vaquejada.

“São apenas dois hotéis, não vai dar conta do tanto de gente que vai vir. A nossa demanda é sempre de pessoas que vem a trabalho para São Luiz, raramente é de turismo, então é algo que a cidade precisa trabalhar”.

Giovani optou por não realizar as reservas ainda, pois quer estudar melhor as possibilidades e vai esperar a proximidade da data do evento. Ele acredita que cidades vizinhas irão ficar com hotéis lotados também.

“Receber o público, com certeza a cidade tem capacidade, mas aonde colocar todo mundo? Tem os hotéis nos municípios vizinhos, em São João da Baliza, Caroebe e Rorainópolis, que ficam muito próximos e com certeza, vão ficar lotados. Então, provavelmente muita gente vai ter que ficar em outras cidades”.

Moradores alugarão a própria casa

A professora Paula Furlaneto, de 33 anos, moradora da cidade, já está na expectativa para o show. Ela é uma das pessoas que pretende preparar a própria casa para receber os turistas. A ideia é ofertar um camping para barracas, com direito a almoço e café da manhã em seu quintal.

Acolher hóspedes é algo que a professora sabe, já que um dos hotéis da cidade é de sua família. Paula conta que a ideia de fazer o camping surgiu após um conselho de sua mãe.

“Aqui em São Luiz só tem dois hotéis que já estão todos sem vaga para os três dias do evento, não tem como receber tanta gente apenas com isso. Minha mãe, que é dona do Hotel Veneza, me aconselhou a alugar o espaço aqui de casa, que tem um quintal bem grande para fazer uma espécie de camping”, conta a professora.

A expectativa — assim como os investimentos — são grandes. Para receber os turistas, ela pretende reformar a casa, preparar o quintal e até montar mais banheiros para receber os fãs dos cantores que se apresentarão na vaquejada.

“Eu vou reformar tudo, vou fazer mais três banheiros no quintal, vou montar um barracão e vou ainda vender almoço e café da manhã. Ainda não tá pronto, mas eu vou melhorar a estrutura da minha casa para receber as pessoas a partir de agosto, que é quando começa a terminar as chuvas. Vou investir muito, já fiz até o empréstimo no banco”.

Ela conta que não é só ela que está investindo dinheiro para o período do evento. Como a cidade é pequena e todos se conhecem, ela observou que toda a cidade pretende de alguma forma embolsar algum dinheiro.

“Assim como eu, todo mundo está investindo bastante para esse evento. Eu vejo as pessoas que tem seu quintalzinho disponibilizando para alugar, às vezes alugando até a própria casa para os turistas… gente que cria galinha e tem plantações, dobrando por conta da expectativa. Os dois hotéis não vão dar conta do recado, são poucos quartos”.

Já para o servidor público Orandir Nascimento, de 59 anos, a ideia de alugar a casa para o evento surgiu do seu genro, mas ele só aceitou depois de encontrar pessoas “conhecidas e de confiança” interessadas em participar do evento.

“Quem me deu a ideia foi o meu genro. Ele tem uns conhecidos que querem vir aqui para o evento e então ele pediu para eu reservar a casa para eles. Nesse período, eu vou ficar na minha chácara”, conta.

Orandir não pretende realizar mudanças na casa, pois acredita que a estrutura já está pronta para receber os inquilinos temporários.

“Eu não pretendo fazer muita coisa na minha casa, para ser sincero. Aqui em casa é tudo pronto, a estrutura é boa, só mesmo guardar minhas coisas e ajeitar as três suítes aqui para receber o pessoal. Três dias é pouco tempo, eu vou alugar para pessoas que eu conheço também”.

Show de Gusttavo Lima em São Luiz

A contratação do cantor pela Prefeitura de São Luiz é investigada pelo Ministério Público de Roraima (MPRR). A cidade tem uma população estimada em cerca de 8 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim, dividindo o valor do cachê, daria R$ 100 por cada pessoa que vive na região, incluindo adultos e crianças.

A contratação do cantor ganhou repercussão na última terça-feira (24) após um perfil no Twitter divulgar os valores fazendo uma comparação o total de habitantes de São Luiz, contrapondo o valor com os benefícios da Lei Rounet.

“Cada habitante pagou cerca de 100 reais para o show acontecer. Idosos, bebês, todos pagaram. Claro que não precisam de Lei Rouanet”, destacou o perfil.

A diferença entre a contratação por pequenas prefeituras e a Lei Rouanet entrou em discussão nas redes sociais após o sertanejo Zé Neto criticar a lei e “alfinetar” a cantora Anitta em um show que custou R$ 400 mil à prefeitura de Sorriso (MT). Com isso, o assunto ganhou repercussão nacional.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, o prefeito comemorou a repercussão da contratação do cantor. No vídeo, o prefeito inicia dizendo que a polêmica está movimentando todas as redes sociais e que o Brasil inteiro fala sobre São Luiz.

Fonte: G1

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