Assistindo ao filme “Amistad”, quis pesquisar o nome do personagem de Antony Hoptkins: ex-presidente norte americano Quincy Adams e constatei que o modo de vida humano contemporâneo enraizado nas revoluções liberais do século 18 ainda tem muito para evoluir na direção da verdadeira igualdade entre os homens.

Quincy era filho do segundo presidente dos Estados Unidos, John Adams. E sendo filho de um ex-presidente, tornou-se presidente. Há méritos não os negamos. Mas também há privilégios e a estes todos precisamos reconhecer, declarar abertamente sua existência e combatê-los.

Na história norte americana, houve um presidente Bush, o pai. E um outro presidente Bush, o filho. Assim como um presidente Clinton. E tudo indica uma presidente mulher Clinton. Passados quase 350 anos da independência norte americana e da Revolução Francesa, bem como de nossa tão cara Inconfidência Mineira, as revoluções ou insurreições liberais,  o comportamento humano ainda é monárquico. Agora não mais a monarquia se determina por sangue, mas por voto.

Não há como dizer que Quincy Adams teve condições iguais a um norte americano branco, trabalhador assalariado da época, porque nem me atrevo a citar os negros libertos, ou escravizados. Ou dizer que Bush filho obteve as mesmas condições que um negro do Bronx. Ou que Hilary Clinton está em condições de igualdade com qualquer de seus eleitores que jamais foram casados com ex-presidentes.

Não há igualdade na realidade e nem na lei. A lei para igualar as pessoas precisa tirar privilégios de alguns e impor-lhes restrições para que outros tenham oportunidade.  Isso seria dar efetividade ao princípio da igualdade.

No direito é muito comum ver juízes, procuradores de justiça, delegados de polícia exercendo a advocacia após a aposentadoria. Sem qualquer tipo de restrição. Ora, todos podem ver a diferença quando um ex-delegado de polícia, ex-juiz ou ex-promotor vai despachar com um magistrado ativo um processo e quando um advogado rotineiro do fórum é o pretendente do atendimento do magistrado.

Sendo mais grave quando se observa que as vagas restritas nos tribunais vão sendo sucedidas por famílias que se perpetuam nas Cortes de Justiça. Formando verdadeiros clãs do judiciário, do Ministério Público… Na política brasileira também é rotineiro ver a formação de clãs.

Da mesma forma que a igreja dos primeiros cristãos se deixou impregnar pelas fórmulas e cerimônias do império romano, formando um clero equiparado à nobreza daquele, passando a estruturar-se a si mesma como um grande império, dividido em territórios (dioceses e paróquias) formando sua própria nobreza.

Hoje ainda vemos este comportamento. Ele precisa ser superado. É importante diminuir o valor que se dá aos ocupantes de cargos públicos, reduzindo seus privilégios e elevar as possibilidades das “pessoas comuns” para que cada vez mais seja possível a todos o acesso, em condições de igualdade real.

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