Há exatos 15 dias, os amigos Bráulio Inácio Corrêa, 26, e Carlos Henriques Gomes, 21, saíram de João Monlevade, na região Central do Estado, com destino ao Mineirão, na capital, para assistir a um jogo de futebol. A empolgação dos jovens torcedores, porém, foi bruscamente interrompida em uma das muitas curvas da BR–381: uma batida os matou na hora. Desde o ano passado, o valor gasto com as mais de 7.000 vítimas de tragédias como essa chegou a R$ 279,8 milhões na chamada Rodovia da Morte – verba que seria suficiente para pagar metade da obra de duplicação de um dos trechos mais inseguros da estrada. Caso o recurso tivesse sido transformado em investimento antes, muitas vidas poderiam ter sido poupadas.

Embora as obras na rodovia tenham enfim começado, a melhoria nos 31 km do trecho entre Belo Horizonte e Caeté, na região metropolitana, que corresponde aos últimos dois lotes não licitados do projeto, ainda não saiu do papel em função da falta de consenso em relação aos custos. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) alega não ter orçamento para pagar o valor que tem sido proposto pelas empresas interessadas na reforma. Com isso, as últimas duas licitações da obra fracassaram.

Em meio ao impasse, tudo o que já se gastou desde o ano passado com resgates, socorro a feridos, tratamentos hospitalares, recuperação de veículos e perda de produção em decorrência da interrupção temporária ou permanente de atividades produtivas das vítimas seria suficiente para custear, ao menos, 51,8% da duplicação. A intervenção do trecho não deve demandar mais que R$ 540 milhões, segundo dados do movimento Nova 381. Os 6.908 feridos e 396 mortos contabilizados na BR–381 entre 2014 e o primeiro semestre deste ano custaram R$ 279,8 milhões.

Cálculo

Os valores foram calculados  com base em custos estimados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atualizados pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) . Seguindo esse ritmo, a tendência é que, em pouco tempo, tudo que se tem gastado com acidentes de trânsito na BR-381 seja suficiente para bancar a duplicação entre a capital e Caeté.

Especialistas alertam, entretanto, que algumas variáveis consideradas pelo Ipea têm valores antigos, fazendo com que os custos fiquem subdimensionados. “Apesar disso, esse é um custo alto, e a estimativa de valores assusta”, avalia o pesquisador Paulo Guimarães, diretor técnico do ONSV.

O Tempo

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