A Operação Contenção, considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, com 132 mortos segundo a Defensoria Pública fluminense, pode ter reflexos no sistema prisional de Minas Gerais. Policiais penais do estado afirmam que ações dessa magnitude costumam gerar retaliações de facções criminosas, e alertam para a falta de estrutura e armamento em caso de motins.

De acordo com uma fonte ouvida pela reportagem, até a manhã desta quarta-feira (29) não havia registros de retaliação em presídios mineiros. “Mas a gente sempre entende que pode haver represálias, principalmente nas cadeias que têm faccionados do Comando Vermelho, como é o caso de Juiz de Fora e de presídios mais próximos ao Rio de Janeiro”, afirmou.
Entre as ações temidas estão motins, brigas entre detentos, subversão da ordem, tentativas de fuga e ordens para crimes fora das grades, como incêndios de ônibus e outros atentados que possam chamar a atenção das forças de segurança.

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, há presos ligados ao Comando Vermelho em unidades como o presídio Nelson Hungria, em Contagem, e o de São Joaquim de Bicas. Apesar disso, a presença predominante nas unidades do entorno da capital é do Primeiro Comando da Capital (PCC).

O diretor de comunicação do Sindicato dos Policiais Penais de Minas Gerais (Sindppen-MG), Magno Soares, denunciou que a categoria não está preparada para lidar com possíveis confrontos. Segundo ele, apenas um terço dos agentes possui armas fornecidas pelo Estado, e metade não dispõe de colete com placa balística.
“Não estamos. Precisamos de armamento. O governo tem sido omisso. Há 2.000 policiais penais aguardando armamento. São 15 mil servidores na ativa, e hoje existem, no máximo, 5.000 armas. Em Uberlândia, o presídio é comandado pelo PCC em um bairro dominado pela facção. Há policiais penais sendo ameaçados e emboscados, e muitos só estão armados porque compram as armas com recursos próprios”, denunciou.

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) foi procurada pela reportagem e ainda não respondeu.

Impactos em Minas:
O especialista em segurança pública Jorge Tassi alertou para a possibilidade de fuga de integrantes do Comando Vermelho para estados vizinhos. “Essa fuga pode gerar conflitos; por isso, a prevenção é fundamental neste momento”, avaliou.

Tassi destacou que reflexos também podem ocorrer dentro de Minas Gerais. “Podemos ter repercussões, pois o crime organizado tende a responder aos chamados e às ações das forças de segurança. É provável que vejamos movimentações em locais onde as facções têm algum tipo de controle. Já há relatos de atuação do CV em zonas de influência no estado, principalmente nas áreas de divisa com o Rio”, explicou.

Segundo o especialista, a reação dos grupos criminosos tende a ser violenta. “O crime organizado responde de duas formas: com dinheiro ou com violência. Neste caso, será a segunda alternativa. Precisamos ter uma estrutura preventiva preparada para esse tipo de situação”, concluiu.

Enquanto Minas Gerais monitora possíveis reflexos da Operação Contenção, policiais penais e especialistas reforçam a necessidade de reforço estrutural e de ações preventivas para evitar que eventuais retaliações do Comando Vermelho ultrapassem as fronteiras fluminenses e coloquem o sistema prisional mineiro em risco.

Com informações do Jornal O TEMPO

 

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