Depois de cinco décadas de extinção, o mutum-do-bico-vermelho (Crax blumenbachii) voltou a habitar o Parque Estadual do Rio Doce, a maior área de Mata Atlântica em Minas Gerais — com 36 mil hectares de floresta preservada. A ave é considerada uma espécie-chave para a dispersão de sementes, assumindo papel fundamental na regeneração da mata. A reintrodução da ave é resultado do projeto “De Volta ao Lar”, desenvolvido pela Associação de Amigos do Parque (DuPERD) em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF).
“O mutum é um plantador de florestas. Ao trazê-lo de volta, beneficiamos todo o ecossistema”, explica o biólogo e consultor do projeto, Luiz Eduardo Reis. Em 2023, o projeto iniciou uma nova fase com foco no Parque Estadual do Rio Doce. Cerca de 30 aves foram reintroduzidas na região da Ponte Perdida. A área foi escolhida por suas condições ambientais favoráveis e relevância ecológica, conforme o IEF.
Ainda de acordo com o IEF, os primeiros resultados do monitoramento indicam que as aves conseguiram se adaptar ao novo habitat. Aves não anilhadas — nascidas na natureza — já foram registradas a mais de 20 km do ponto de soltura. Um casal com filhote também foi avistado, sinalizando que a espécie está se reproduzindo em ambiente natural. “O objetivo principal é que o mutum volte a fazer parte do ecossistema e da cultura das populações locais”, afirma Gabriel Ávila, analista ambiental do IEF e coordenador do projeto.
Outro indicador positivo, segundo o IEF, é o engajamento crescente da população local, que tem relatado ter visto espécies da ave em áreas verdes próximas ao parque. “Isso mostra que o projeto tem impacto não só ecológico, mas também social”, destaca o biólogo. O projeto “De Volta ao Lar” é desenvolvido com ações de pesquisa científica, educação ambiental e participação comunitária.
A reintrodução do mutum teve início nos anos 1990, com a reprodução em cativeiro e a soltura de aves ameaçadas. Desde então, mais de 200 indivíduos foram liberados na natureza a partir da Reserva Particular Fazenda Macedônia, em Ipaba, na mesma região.
Fonte: O Tempo