O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu a possibilidade de pedir refúgio em alguma embaixada no Brasil, caso tenha a prisão decretada após eventual condenação pela suposta trama de golpe de Estado em 2022.
“Embaixada, pelo que eu vejo a história do mundo, né, quem se vê perseguido pode ir para lá”, disse Bolsonaro em entrevista ao portal UOL publicada nesta quinta-feira (28).
No entanto, o ex-presidente afirmou que, se “devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos” e não teria retornado ao Brasil.
A Polícia Federal (PF) afirmou em inquérito que indiciou Bolsonaro e mais 36 que o ex-presidente esteve à frente de planos para continuar no Palácio do Planalto mesmo após ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
A trama, segundo a PF, incluía prisão e até assassinato do petista, do seu vice, Geraldo Alckmin (PSDB), e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O plano não foi concretizado por “circunstâncias alheias à sua vontade [de Bolsonaro]”, ainda conforme o relatório final da PF no relatório da investigação iniciada após os atos de 8 de janeiro de 2023.
Na mesma entrevista ao UOL, O ex-presidente voltou a negar saber do plano para matar e prender o presidente Lula, Alckmin e Moraes. Ele também voltou a questionar se “discutir um dos artigos da Constituição” é crime.
“Foi levada avante alguma dessas possíveis propostas? O comandante do Exército falou sobre isso. Foi discutida a hipótese de GLO, de 142, de estado de sítio, estado de defesa. Qual é o problema de discutir isso aí?”, questionou Bolsonaro.
Ex-presidente passou dois antes na Embaixada da Hungria
A possibilidade de Bolsonaro buscar refúgio em alguma embaixada já havia sido ventilada quando soube-se que ele havia permanecido na representação diplomática da Hungria em Brasília, entre 12 e 14 de fevereiro de 2024.
Em 8 de fevereiro, a PF deflagrou a Operação Tempus Veritatis, na qual Bolsonaro e aliados foram alvos de mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva em investigação sobre tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
A PF confiscou o passaporte do ex-presidente e prendeu dois de seus ex-assessores sob acusações de terem planejado um golpe. Quatro dias depois, Bolsonaro apareceu em imagens de câmeras de segurança dentro da embaixada húngara, obtidas e divulgadas pelo jornal norte-americano The New York Times.
O ex-presidente brasileiro tem o governo da Hungria como aliado. Ele é amigo de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria que é tido como uma das principais lideranças mundiais da extrema direita.
Em dezembro de 2023, Bolsonaro e Orbán encontraram-se em Buenos Aires, capital da Argentina, para a posse de Javier Milei, outro nome da direita. Na ocasião, Orbán chamou Bolsonaro de “herói”.
Toda embaixada é considerada território inviolável do país de origem. Portanto, a polícia local não pode entrar no prédio da representação estrangeira para cumprir um mandado de prisão.
A PF concluiu o inquérito da Operação Tempus Veritatis em 21 de novembro e pediu o indiciamento de Bolsonaro e mais 36 pessoas, entre militares de alta patente e aliados próximos ao ex-presidente, como os ex-ministros Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno.
O relatório foi encaminhado na terça-feira (26) à Procuradora-Geral da República (PGR), a quem caberá a análise do caso e a eventual apresentação de denúncia contra os indiciados. Caberá à Primeira Turma do STF aceitar ou não o parecer. Caso aceitem, os implicados na investigação por golpe de Estado passam a ser réus.
Fonte: O Tempo