O Brasil importou mais de US$ 8,3 bilhões em óleo diesel em 2024, sendo o segundo produto mais importado pelo país no ano, atrás apenas de óleos brutos do petróleo (com US$ 8,6 bilhões em importações). O dado é de um estudo inédito da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, com base em informações do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

A pesquisa mostra ainda que 82% desse diesel importado vem de apenas dois países: Rússia e Estados Unidos. Entre 2016 e 2020, o principal fornecedor de óleo diesel ao Brasil eram os EUA, que chegaram a vender 84% do combustível importado pelo nosso país. Panorama que mudou muito ao longo dos anos, por diversos motivos.

Em 2022, por exemplo, o governo americano chegou a pensar em restringir a exportação, por causa do alto preço do diesel no país na época. Naquele ano, conforme o levantamento da Nexus, a porcentagem de diesel importado dos norte-americanos caiu para 57%, o segundo lugar ficou com a Índia (16%). E o Brasil pagou, pelo combustível importado, US$ 13,9 bilhões.

O cenário mudou também como consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022. Os russos sofreram sanções econômicas da União Europeia, que deixou de importar recursos energéticos do país. Com isso, o Brasil aproveitou a oportunidade e passou a ser um dos seus principais compradores de derivados do petróleo. Conforme o levantamento da Nexus, em 2023, 27% do diesel importado pelo Brasil veio da Rússia. Em 2024, esse número subiu para 65%.

Com as sanções do Ocidente, a Rússia passou a vender seu diesel com desconto — e o Brasil aproveitou a oportunidade. Faz sentido do ponto de vista econômico, mas também nos coloca em uma posição delicada: estamos trocando uma dependência por outra”, analisa o diretor de relações institucionais da AGL Cargo, Jackson Campos.

É importante destacar que essa mudança de fornecedor teve efeito direto no preço do diesel por aqui. Importar da Rússia ajudou a aliviar o impacto de um petróleo caro e de um câmbio pressionado. Mas é uma solução que traz riscos. Se houver qualquer instabilidade ou mudança nas relações comerciais, podemos sentir isso na bomba em questão de semanas”, pondera o especialista. Hoje, nas bombas, segundo a pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo, o litro do Diesel está custando R$ 6,19, em média, e o Diesel S10, R$ 6,26.

Jackson observa que o estudo da Nexus joga luz sobre um ponto central: o diesel é um dos motores da economia brasileira. “Depender de poucos fornecedores, seja quem for, é perigoso. Precisamos pensar em diversificação, segurança de abastecimento e em estratégias que garantam previsibilidade para o setor”, defende.

Apesar de ser dependente da importação de diesel refinado, devido à falta de capacidade de refino para consumo interno, o Brasil tem crescido na produção do combustível. No ano passado, por exemplo, de acordo com a Petrobras, a Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão (SP), registrou recorde no segundo trimestre, ao produzir 990 mil m³ de diesel S-10. E, de acordo com o governo federal, em outubro do ano passado, o óleo diesel S-10 registrou 24,6 bilhões de litros produzidos até outubro, um aumento de 5,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Confira dados da pesquisa da Nexus

Importação do diesel

2024 – US$ 8,3 bilhões – 65% da Rússia, 17% dos EUA
2023 – US$ 9,6 bilhões – 47% da Rússia, 26% dos EUA
2022 – US$ 13,9 bilhões – 57% dos EUA, 16% da Índia
2021 – US$ 7 bilhões – 49% dos EUA, 18% da Índia
2020 – US$ 4 bilhões – 82% dos EUA
2019 – US$ 6,6 bilhões – 82% dos EUA

Produtos mais importados pelo Brasil

1º lugar – óleos brutos do petróleo – US$ 8,6 bilhões
2º lugar – óleo diesel – US$ 8,3 bilhões
3º lugar – partes de turborreatores ou de turbopropulsores (aeronaves) – US$ 4,8 bilhões
4º lugar – outros cloretos de potássio (fertilizantes e usos industriais) – US$ 3,6 bilhões
5º lugar – turborreatores de empuxo superior a 25 kN (aeronaves) – US$ 3,4 bilhões

 

 

Fonte: Raíssa Pedrosa – O Tempo

 

 

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