O Brasil teve um salto, nos últimos anos, no número de médicos e hoje cerca de 545,4 mil profissionais estão em atividade no país. Isso dá 2,56 para cada mil habitantes – próximo ao índice de outros países, como os Estados Unidos.

Os números, no entanto, confirmam a desigualdade na distribuição e na fixação de médicos pelo Brasil: a maioria (mais de 290 mil) está concentrada somente nas capitais, atendendo a 24% da população brasileira. Entre as regiões, o Norte é a mais deficitária.

Os dados, divulgados nessa segunda-feira (6), são do Conselho Federal de Medicina (CFM) e aparecem na Demografia Médica, plataforma que neste ano ganhou uma versão digital, que deverá ser atualizada a cada seis meses. Antes, os números eram disponibilizados de forma impressa a cada dois anos.

O aumento no número de médicos acompanhou o boom de escolas médicas e de vagas na última década. Em 2010, a proporção de médicos por mil habitantes era de 1,76 e havia 343,7 mil registros de médicos no país – em 2022, os registros subiram para quase 600 mil (tem médico que faz mais de um registro para atuar em estados diferentes).

De acordo com o CFM, como os médicos têm uma vida profissional longa (cerca de 43 anos), alguns estudos já estimam que o Brasil deve alcançar quase 837 mil médicos em cinco anos.

Para o presidente do CFM, José Hiran Gallo, há um número exacerbado de escolas médicas no Brasil, “muitas sem a menor condição de funcionamento”.

“Com esse excesso de faculdades de medicina, temos excesso de profissionais hoje no Brasil. Como não há uma política abrangente, a maior concentração fica na região Sul e Sudeste, onde há praias, há tudo”, destacou José Hiran Gallo, em coletiva de imprensa.

 1 – Raio X dos médicos

O levantamento traça um perfil do médico que atua no Brasil.

  • Os profissionais estãocada vez mais jovens: a média de idade é de 44,9 anos. Em 2015, era de 45,7.
  • Entre o sexo masculino, a média é de 49 anos- a maioria tem entre 30 e 34 anos.
  • Entre o sexo feminino, a média de idade é de 42 anos- a maioria tem menos de 29 anos.

Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os estados que têm uma média de idade mais alta entre a população médica: 50,3 anos e 47,8 anos. Já os estados com médicos mais jovens são Tocantins e Rondônia, com média de idade de 41 anos.

  • As mulheres devem tomar conta da profissão nos próximos anos: atualmente, elas representam 49,07%do total de profissionais (267 mil). Já os homens representam 50,9% (277,7 mil).

Em 1990, as mulheres eram apenas 30% da força de trabalho médica. A presença feminina subiu para 39,9% em 2010 e, agora, ocupa quase a metade do total de profissionais.

  • A média de tempo de formadodos médicos em atividade é de 19,21 anos;
  • Mais de 90% se formou no Brasil(521 mil): apenas 20,9 mil médicos se graduaram no exterior;
  • 272,5 mil se formou em instituição privada e 265,8 mil em pública;
  • 298 mil médicos possuem alguma especialidade, como cardiologia ou ginecologia; 297 mil são considerados generalistas, ou seja, sem especialidade;
  • Há 596,1 mil registros de médicosno Brasil: 492 mil possuem apenas um registro e 677 têm cinco ou mais registros nos conselhos de medicina.

2 – Distribuição

O Brasil vive um cenário de desigualdade na distribuição, fixação e acesso aos médicos. A maioria está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, nas capitais e nos grandes municípios.

  • 62% dos médicos do país atuam nas 49 cidades que possuem mais de 500 mil habitantes. Juntas, elas concentram 32% da população brasileira;
  • Cerca de 205,5 mil médicos atendem nos outros 521 municípios do país ou 68% da população brasileira;
  • Nos 890 municípios com até 50 mil habitantes, estão pouco mais de 8% dos profissionais (cerca de 42 mil médicos). Nesses locais, moram 65,8 milhões de pessoas;
  • Em 250 municípios menores(de até 5 mil habitantes), há 0,45 médicos para cada mil habitantes.

As 27 capitais brasileiras reúnem 54% dos médicos – uma média de 6,21 médicos por mil habitantes. Já no interior estão 46% dos médicos – 1,72 profissional para cada mil habitantes.

Entre as regiões, de acordo com o CFM:

  • No Sudeste, estão 58% dos médicos – 3,22 para cada mil habitantes;
  • No Sul, estão 15,7% dos médicos – 2,82/mil habitantes;
  • NoCentro-Oeste, estão 8,4% dos médicos – 2,74/mil habitantes;
  • No Nordeste, estão 18,5% dos médicos – 1,75/mil habitantes;
  • E no Norte, estão 4,6% dos médicos – 1,34/mil habitantes.

Para o CFM, a desigualdade na distribuição de médicos pelo país passa pela falta de atrativos e de condições mínimas de trabalho. Segundo a entidade, o Brasil necessita de políticas públicas para deslocar profissionais dos grandes centros urbanos para o interior e para cidades pequenas. E mais: fazer com que o médico permaneça por lá.

“Não adianta colocar só o profissional sem um mínimo de condições para exercer a medicina de qualidade, sem ter uma infraestrutura de trabalho, leitos, equipamentos, medicamentos, acesso a exames e uma equipe multiprofissional”, defendeu o presidente do CFM.

Gallo afirma que a proposta do governo Lula (PT) de retomar o Mais Médicos pode ser um caminho para suprir a carência de profissionais pelo interior do país, mas defende que médicos formados do exterior, brasileiros ou estrangeiros, passem pelo Revalida para atuarem no Brasil.

Fonte: G1

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