A ampliação do acesso à internet está provocando uma transformação no perfil do eleitor brasileiro, situação que acaba por gerar a necessidade de mudanças nas campanhas políticas.

Isso ainda é amplificado pela reforma política, que impediu a doação de empresas para candidatos, e pela dificuldade de fiscalização e falta de regulamentação específica para a propaganda eleitoral nas redes sociais.

Uma pesquisa do Ibope mostrou que 51% dos brasileiros leram informações sobre política no Facebook, Twitter ou WhatsApp nos últimos 12 meses. Em outro estudo, feito pela mesma empresa, mas realizada na internet, o número chega a 87%.

As campanhas virtuais já mobilizam os partidos, que apresentam um receio especial em relação aos efeitos destruidores que podem atingir seus candidatos. O presidente do PSDB de Minas, Domingos Sávio, conta que a sigla preparou uma reunião com seus candidatos a prefeituras e câmaras municipais para orientar sobre o uso da internet na eleição.

“Uma das preocupações é ensinar aos candidatos a se defenderem”, afirma ele. Sávio argumenta que a campanha nas redes sociais é um mecanismo econômico, mas possui um aspecto negativo, já que também pode ser usada como uma arma.

A presidente estadual do PT, Cida de Jesus, conta que o partido tem consciência que a internet “também é espaço de divulgação de boatos e informações sem credibilidade”. Cida diz que a sigla tem como estratégia enfrentar todas as acusações que forem feitas contra o PT. “Todos os questionamentos sempre serão respondidos”, afirma a petista.

Já o PMDB avalia que ainda não é o momento de uma orientação geral sobre a campanha na internet. O secretário geral do diretório mineiro, Sávio Souza Cruz, conta que caberá a cada candidato avaliar a forma de atuar nesta área. “Não temos nenhuma orientação para as candidaturas em relação às redes sociais. O pessoal da área jurídica em algum momento vai passar as instruções”, diz Souza Cruz.

Deletério. A pesquisa feita pelo Ibope também indica que as redes sociais têm impactado na reputação dos representantes da sociedade. Para 56% dos entrevistados, as informações compartilhadas contribuíram de forma negativa para a imagem dos políticos. Apenas 27% desses compartilhamentos mudaram para melhor a imagem de políticos e partidos.

Especialista em marketing digital para campanhas, o publicitário Pedro Guadalupe avalia que o momento político torna desnecessário buscar sujar a imagem dos adversários.

“Se alguém está perdendo tempo pagando alguém para fazer isso é porque tem dinheiro sobrando. Hoje o difícil para qualquer político é não ser xingado”, argumenta o publicitário.

Apesar da ressalva, Guadalupe lembra que, durante as campanhas, sempre aparecem mensagens que buscam desconstruir possíveis adversários.

Escolaridade

Levantamento. De acordo com o Ibope, o hábito, no Brasil, de receber e ler informações sobre política na internet é maior entre os eleitores que possuem mais tempo de estudo.

Plataformas on-line viram alternativas para candidatos

Com a proibição do financiamento eleitoral por empresas, conjugada com a atual crise econômica, as campanhas deste ano terão que ser mais econômicas. Assim, a internet surge como alternativa viável por apresentar custo menor que outras plataformas convencionais de campanha.

Especialistas, no entanto, divergem sobre o poder do espaço virtual para angariar votos.

O presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, acredita que o Brasil assimilou de forma equivocada a experiência dos Estados Unidos. “No Brasil, compraram a ideia de que a internet dá voto. O uso da internet é para conseguir doações para as campanhas de rádio e TV, que é o que dá voto”, afirma ele.

Manhanelli admite que, atualmente, não é possível fazer campanha sem estar na internet. “Mas tem que ter consciência sobre os seus limites”, adverte ele.

Especialista em marketing digital para campanhas, Pedro Guadalupe destaca que a nova legislação eleitoral potencializou o uso das redes sociais. “A TV entra em lugares onde a internet não chega, mas a internet tem muito mais ferramentas que podem ser usadas”, explica ele.

Guadalupe recomenda que todos os candidatos tenham uma assessoria que faça a publicidade eleitoral na rede mundial.

Ele conta que já começou a sentir os efeitos positivos para o setor, provocados pela mudança nas regras eleitorais. “O mercado todo está reclamando, principalmente quem estava acostumado a fazer grandes campanhas, com muito dinheiro e sabendo que não vai trabalhar este ano. Mas, pra mim, não posso reclamar”, confidencia Guadalupe. (FC)

Brasil tem mobilização virtual maior do que outros países

O Ibope apresentou um levantamento feito em conjunto com agências de pesquisa de outros países da América Latina e América do Norte, na qual revela que os brasileiros são o povo que mais se mobiliza politicamente graças à internet.

Entre os entrevistados, 24% foram a uma manifestação convocada ou publicada nas redes sociais, e 34% deles se uniram virtualmente a alguma causa social ou política.

A pesquisa detectou, no Brasil, um ativismo muito mais forte que em outros países, especialmente em comparação com os vizinhos sul-americanos. A avaliação é que esse quadro é fruto do momento atual do país, com escândalos de corrupção sendo trazidos a público e se tornando, assim, parte da rotina da população.

 

Fonte: O Tempo Online ||

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