Voraz compradora de ativos no país, a estatal mineira Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) transformou-se numa gigante do setor elétrico em apenas sete anos. No final de 2002, tinha sob o seu guarda-chuva 10 empresas, participação em cinco consórcios, valor de mercado de aproximadamente R$ 4 bilhões e Ebitda (lucro antes de pagamento de juros e impostos) de R$ 1,1 bilhão. No encerramento de 2009, os números tinham se multiplicado. Eram 59 empresas e 10 consórcios, Ebitda de R$ 4,1 bilhões e valor de mercado de R$ 17 bilhões, mais de quatro vezes maior do que o apurado sete anos antes.
O problema é que, enquanto a empresa crescia a uma velocidade de cruzeiro, a qualidade dos serviços prestados em Minas caminhava em sentido contrário. Entre 2003 e 2009, o número de horas que o consumidor da estatal ficou sem energia aumentou em 31,2%, saindo, em média, de 10 horas e 44 minutos para 14 horas e cinco minutos. Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e foram compilados pelo Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).
Das 48 regiões em que está dividida a área de atendimento da Cemig em Minas, 27 não atingiram a meta do número de horas que o consumidor pode ficar sem energia durante o ano de 2009. Isso significa que, das 6,6 milhões de unidades consumidoras da concessionária, 4,1 milhões ? ou 63,7% do total ? faziam parte do universo no qual a qualidade de prestação do serviço não alcançou o patamar mínimo estipulado pela Aneel. Nos últimos 10 anos, o pior desempenho da Cemig nesse quesito tinha ocorrido em 2008, quando 17 conjuntos ficaram aquém da meta. Em 2003, eram 12 ? e, em 2004, apenas três.
?A queda da qualidade nos serviços prestados pela Cemig é fruto da redução de investimentos em manutenção nos últimos anos. Reverter esse quadro será um desafio para a nova gestão?, reconhece um membro do conselho de administração da empresa que prefere não se identificar. Ele admite que os serviços pioraram, que o número de interrupções no fornecimento aumentou e que o mesmo ocorreu com a duração do tempo que o consumidor fica sem energia.
Outra fonte ligada à empresa sustenta que a queda na qualidade coincide com a implementação do novo plano diretor da companhia. Foi esse plano que deu a nova orientação para que a empresa crescesse adquirindo ativos. Além disso, segundo essa mesma fonte, junto com o apetite pelas compras, aumentou também a distribuição de dividendos aos acionistas, ou seja, os consumidores foram deixados de lado em nome do crescimento do negócio. De acordo com a concessionária, a alta nas interrupções do fornecimento de energia está ligada ao ?aumento significativo da severidade climática?, e não à queda de investimentos em distribuição e manutenção ou ao aumento da força de trabalho terceirizada.

Árvores
Rita Fajardo, gerente de gerenciamento e acompanhamento de controle da operação da Cemig, afirma que a demora para restabelecer o fornecimento é decorrente da queda de árvores na rede. ?A rede nua é muito suscetível à descarga atmosférica. Em BH, 70% das causas de interrupção estão ligadas à queda de árvores. Isso não tem a ver com redução de investimento. Se uma árvore cai, não importa quanto foi investido na rede?, sustenta. Ainda de acordo com ela, a terceirização é responsável pelo aumento de produtividade da empresa. ?A produtividade das empresas terceirizadas é maior do que a nossa?, afirma.
A piora na qualidade dos serviços já é evidente na percepção da população. Em 2009, o Índice Aneel de Satisfação dos Consumidores (Iasc) mostrou que a confiança em relação à rapidez na volta do fornecimento de energia quando há interrupção está caindo. Em 2003, 65,41% dos consumidores estavam satisfeitos com o retorno do serviço. Em 2009, esse número caiu para 62,29%. Só para se ter uma ideia, a média de satisfação entre as concessionárias da Região Sudeste no ano passado foi de 64,48% ? e a média brasileira ficou em 64,61%. Também há insatisfação quanto ao aumento na interrupção no fornecimento. Em 2003, 70,57% dos entrevistados estavam satisfeitos. No ano passado, esse número caiu para 66,05%.

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