Aos poucos, a crise americana começa a mostrar a cara no dia-a-dia de pessoas físicas e empresas brasileiras. O primeiro a sentir os efeitos da fragilidade da maior potência do mundo foi o mercado financeiro, com o aumento da volatilidade na bolsa de valores e a valorização do dólar frente ao real. Agora, empresas especializadas em importação começam a deixar contratos em banho-maria, à espera de uma maior definição no cenário internacional. A recessão também compromete a performance dos exportadores que destinam seus produtos aos Estados Unidos. O próprio crescimento da economia brasileira este ano será menor do que o esperado. Mesmo assim, ainda vai levar pelo menos quatro meses para calcular os estragos provocados pelo problema no país.
Depois do sobe-desce dos papéis listados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que só este ano já registraram uma desvalorização de 12,1%, é a vez da paralisação momentânea das compras internacionais. É o que está acontecendo na Enoteca Decanter, em Belo Horizonte. Flávio Morais, dono do estabelecimento, conta que está negociando com os fornecedores externos, mas espera novos sinais do mercado americano para embarcar as mercadorias. ?Se não fosse isso, já estaríamos importando neste período do ano. Mas as importações foram suspensas por causa da instabilidade do mercado?, diz. Segundo ele, porém, por causa das compras de fim de ano, a casa tem estoque de vinhos para mais dois ou três meses.
As empresas que vendem aos Estados Unidos também estão na berlinda da crise. Na avaliação do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, serão mais atingidas as organizações que vendem commodities metálicas destinadas ao mercado da construção civil americano e os exportadores de produtos manufaturados. ?Haverá impacto direto na venda dos produtos manufaturados aos Estados Unidos e, em seguida, em terceiros mercados?, acredita. Na Manoel Bernardes, que tem nas terras do Tio Sam o destino final para 90% das jóias e pedras preciosas comercializadas no mercado internacional, num total de US$ 3,5 milhões ao ano, o impacto inicial não deixará de ser notado. Segundo o presidente da empresa, Manoel Bernardes, ainda é cedo para estimar prejuízos. ?Talvez as perdas sejam diluídas até o final do ano?, acredita. De acordo com o professor de economia da PUC Minas e das Faculdades Ibmec Márcio Antônio Salvato, quando esse tipo de coisa acontece, o mercado pára. ?Quem está fechando contrato espera e isso, no futuro, significa menos contratos fechados, o que vai reduzir as exportações?, explica.
Na outra ponta da economia, os que se arriscaram e comemoraram ganhos expressivos na Bovespa ao longo de praticamente todo o ano passado agora amargam duras perdas. De acordo com Leonardo Mesquita, agente autônomo de investimento, que tem uma cartela de 20 clientes neófitos em matéria de apostas na bolsa, todos os que participaram do lançamento dos papéis da Bovespa e da BMF, que de um dia para o outro renderam 50% e 25%, respectivamente, estão no prejuízo. ?Alguns dos meus clientes já solicitaram o desmanche de suas carteiras?, diz. Ele próprio admite que já amargou perdas de 6%, que teriam chegado a 20% se ele não trabalhasse no ramo.

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