Três milhões, cento e trinta mil reais. Essa é a conta anual paga pelos contribuintes mineiros pela contratação de 67 parentes de parlamentares e políticos que conseguiram emplacar indicações nos gabinetes divididos entre o Palácio da Inconfidência e Edifício Tiradentes, conforme levantamento feito pelo Estado de Minas no Minas Gerais.
Com a publicação da súmula 13, do Supremo Tribunal Federal, o que era considerado imoral passou a ser ilegal. O resultado é que, a partir desta segunda-feira, a maior parte desses apadrinhados (mulheres, filhos, sobrinhos, genros e irmãos) terão de deixar os cargos conquistados sem concurso público na Assembléia.
A maioria dos parlamentares optou por empregar a família no próprio gabinete, mas há muitos casos do chamado ?nepotismo cruzado?, em que um deputado nomeia indicados dos colegas. Pelo menos sete adotaram essa tática. As cotas destinadas aos blocos parlamentares e de lideranças são outro cabide de empregos: seis desses grupos têm parentes lotados em seus quadros. A prática é tão rotineira que há deputados que a admitem abertamente.
É o caso do deputado estadual Antônio Júlio (PMDB), que emprega em seu gabinete uma filha do colega de bancada Getúlio Neiva, um irmão e um sobrinho de Rêmolo Aloise (PSDB). Em contrapartida, o tucano emprega o irmão do peemedebista, Rogério Galvão de Faria. ?Fizemos uma permuta?, confirma Antônio Júlio. O troca-troca é tão grande que ele confessa nem saber quantos foram e onde estão lotados todos os seus indicados. ?Parece que tem uma troca na liderança do partido, não sei bem?, alega. Pois uma busca no Minas Gerais revelou que a sua irmã Márcia Maria faz parte da cota da liderança do PMDB.
O tucano Rêmolo Aloise parece ser muito bem relacionado com os colegas. Além da parceria com Antônio Júlio, ele emplacou o filho Daniel na liderança do PMDB e até a ex-mulher Sílvia, funcionária do presidente da Assembléia, Alberto Pinto Coelho (PP). No próprio gabinete, garantiu emprego com um salário de R$ 6.471,45 para a filha Regina e R$ 1.013,46 para o sobrinho Marcos Vinícius ? um total de seis integrantes da família Aloise no Legislativo.
Também demonstraram união familiar os colegas Antônio Genaro (PSC), Pinduca Ferreira (PP) e Getúlio Neiva (PMDB), cada um com seis indicações. Se na legislatura passada Pinduca empregava quatro parentes, nesta aumentou com uma canetada para seis: são dois filhos, três sobrinhos e uma irmã. E com salários generosos, que variam de R$ 2.964,64 a R$ 3.972,89 ? uma folha mensal de R$ 22.450,71. Os vencimentos são menores, mas Antônio Genaro tem em seu gabinete mulher, filhos, sobrinha, irmã e cunhado, que ganham por mês entre R$ 875,45 e R$ 3.972,89. Getúlio Neiva (PMDB) é outro que não deixou os seus ?na mão?. Empregou no próprio gabinete um primo e duas sobrinhas, encarregadas de serviço de digitação. O trabalho pode até ser o mesmo, mas o salário? Natália recebe R$ 1.231,87 e Renata R$ 5.070,52. Outro digitador era Guilherme Neiva Castro, que perdeu um salário de R$ 4.599,11 ao ser exonerado para assumir um cargo, desta vez conquistado por concurso público na Prefeitura de Belo Horizonte. O contracheque mais polpudo ? R$ 6.471,45 ? ficou com a irmã, lotada na liderança do PMDB. A generosidade do deputado incluiu até uma filha que, apesar de carregar seu sobrenome, ele diz não reconhecer: Priscilla Nery Andrade Porto Neiva, funcionária de Antônio Júlio. Nesta contratação, aliás, ele diz não ter tido qualquer participação. ?Foi uma coincidência?, alega.

INCOMPETENTES
Com o discurso de que decisão judicial não se discute, os parlamentares garantiram que a demissão dos parentes ocorreria assim que a súmula do STF fosse publicada ? o que ocorreu na sexta-feira. Rêmolo Aloise assegurou que a família deixará o Legislativo o ?mais rápido possível?. ?Todos trabalharam para mim durante as eleições e são competentes?, lamentou. Argumento semelhante usou Pinduca Ferreira. ?São os parentes que me ajudam na campanha. E não era proibido contratar. Me mostre um político que não tem parentes contratados, todos têm.?
Os familiares de Getúlio Neiva estarão desempregados na semana que vem, garante ele. ?Sou contra contratar incompetentes ou negociar cargos, mas lei não se discute?, reclamou o parlamentar. Por meio da assessoria, Antônio Genaro limitou-se a dizer que vai cumprir a lei. Mais resistente que os colegas, Antônio Júlio disse que será o último a cumprir a decisão, por achar que ela desrespeita o princípio constitucional de ?igualdade? entre todo os brasileiros. ?Por acaso parente agora virou doente? Não pode mais trabalhar em lugar nenhum??, afirmou.

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