O Dia Mundial das Serpentes é celebrado nesta quarta-feira (16). No mundo, existem cerca de 4 mil espécies conhecidas, sendo 440 delas encontradas no Brasil — o que representa cerca de 11% do total global.
Em Mato Grosso do Sul, estado com grande biodiversidade e lar do Pantanal, quase duas pessoas são picadas por serpentes todos os dias. De janeiro a julho deste ano, foram registrados 314 casos — número que já corresponde a 54,7% do total de 574 notificações de todo o ano passado.
Os dados são da Coordenadoria de Vigilância em Saúde Ambiental e Toxicológica da Secretaria de Estado de Saúde (SES).
As serpentes têm papel essencial no equilíbrio ecológico. Segundo o biólogo e especialista no assunto, Henrique Abrahão Charles, elas são predadoras, mas também podem ser presas quando jovens, o que as torna importantes na cadeia alimentar.
“As serpentes também ajudam a controlar pragas. Uma única serpente, ao longo de 20 anos, pode evitar a existência de até dois milhões de roedores, considerando um cálculo linear, com base no consumo e na reprodução desses animais”, explica o biólogo.
Os termos “cobra” e “serpente” não são exatamente sinônimos, mas ambos são aceitos na biologia atualmente. Henrique Charles explica que os portugueses já conheciam o termo “cobra”, usado para se referir às najas na Índia.
“Quando chegaram aqui, passaram a chamar todas de cobras. O nome mais correto é serpente, mas usar ‘cobra’ não é considerado errado”, afirma.
Confira outras dez curiosidades sobre as serpentes:
Elas não têm pálpebras
As serpentes não piscam porque não têm pálpebras. Seus olhos são protegidos por uma escama transparente chamada escudo ocular.
Usam a língua para ‘cheirar’
- A língua bifurcada capta partículas do ar e as leva ao órgão de Jacobson (ou órgão vomeronasal), permitindo que a serpente perceba odores do ambiente.
Engolem presas maiores que a cabeça
- O crânio das serpentes é muito flexível, e a mandíbula se desencaixa para que possam engolir presas grandes inteiras.
Algumas sentem calor por sensores térmicos
- Espécies como pítons têm fossetas labiais (supralabiais ou infralabiais), que são pequenos orifícios ao redor dos lábios. Já jararacas, cascavéis e sucuris possuem fossetas loreais — pequeno orifício entre o olho e a narina. Ambas atuam como um sensor de calor, permitindo que a serpente detecte presas ou predadores.
“Elas realmente enxergam o calor. A fosseta está ligada ao teto óptico, funcionando como um tipo de visão térmica de predador”, explica Charles.
Nem todas põem ovos
- Algumas serpentes são ovovivíparas: os ovos se desenvolvem dentro do corpo da mãe, e os filhotes nascem vivos — como ocorre com a jararaca.
Trocando de pele com frequência
- A troca de pele, chamada ecdise, ocorre para que a serpente cresça e também para eliminar parasitas.
Vivem em quase todo o planeta
- As serpentes estão presentes em todos os continentes, com exceção da Antártida. Algumas espécies vivem até em ambientes marinhos.
A maioria não é venenosa
- Apenas cerca de 15% das espécies conhecidas têm veneno perigoso para humanos.
Não têm ouvidos externos, mas sentem vibrações
- As serpentes detectam vibrações do solo e sons de baixa frequência por meio do maxilar inferior.
Parentes dos lagartos
- As serpentes descendem de répteis escavadores semelhantes a lagartos, o que explica semelhanças entre os dois grupos.
Mais de 100 encontros
O pescador e influenciador Rafael Gandine, 38 anos, já teve mais de 100 encontros com sucuris gigantes. Muitos deles foram gravados em vídeo e publicados em suas redes sociais, que têm mais de 1 milhão de seguidores.
“A região aqui é bem preservada, com muita água e vegetação. É o habitat natural das sucuris. Pesco frequentemente, o que facilita esses encontros. Não é todo dia que vejo, mas já tive uns 100 encontros ao longo dos anos”, disse Rafael ao g1.
Morador do assentamento Gleba Nova Esperança, em Jateí (MS), desde criança, Rafael vive há dez anos no local. Em 2015, criou um canal no YouTube sobre pescarias e, nos últimos cinco anos, transformou o conteúdo em sua principal fonte de renda.
Segundo Rafael, a maioria dos encontros ocorreu durante as pescarias. Em maio deste ano, ele não percebeu a presença de uma sucuri e sofreu uma rara mordida.
“Elas se escondem muito bem. Já passei por córregos onde parecia não haver nada, mas haviam sucuris escondidas. Este ano fui mordido por uma, acho que pisei nela. Fiquei desesperado e com medo”, relembrou.
Durante o incidente, a serpente acabou quebrando um dos dentes que ficou preso na pele de Rafael. Segundo o biólogo e especialista em serpentes, Henrique Abrahão Charles, as mordidas de sucuris são raras e acontecem como uma forma de advertência.

Foto: Juca Ygarapé/Arquivo Pessoal
Fonte: Mirian Machado – g1 MS