Duga-3 – Pica-Pau de Chernobyl – O Mistério da União Soviética que atormentou o mundo.
Era meado de julho de 1976. A internet comercial estava a 18 anos de ser lançada, mas uma comunidade ligava o planeta através das barreiras de linguagem, cruzando até a Cortina de Ferro: os radioamadores, que conversavam através das madrugadas por seus aparelhos de ondas curtas, que refletiam as ondas de rádio entre a superfície e a atmosfera para cobrir o planeta. E o assunto era um só: o que seriam as transmissões do Pica-Pau?
Era um ruído fantasmagórico e, se assemelhava às pancadas feitas por um pica-pau. O ruído, com frequência de 10 Hertz, interferia na comunicação de rádios-amadores até as comunicações de navios e de aviões. E afetou, inclusive, as estações de rádio de Moscou.
Logo se descobriu que este ruído tinha origem na União Soviética. Pânico instaurado, surgiram teorias exóticas de que seria um “maligno plano comunista para o controle da mente”.
A primeira estação pica-pau foi instalada nas proximidades de Kiev com uma potência inicial de 2 MW (milhões de Watts).
Em seu último estágio de desenvolvimento, o sistema pica-pau russo tinha três estações em funcionamento (ver mapa azimutal equidistante), uma na região ocidental daquele país (no mapa, dirigida a 180º), uma na região setentrional (no mapa, dirigida a 290º), e a terceira na região oriental (no mapa, dirigida a 125º), sendo esta última, embora bem além de seu alcance útil de reflexão, atingia o Brasil e outros países da América do Sul.
Desde o início de sua operação, a potência das estações foi sendo elevada entre 10 e 50 MW (de pico). Os russos escolheram para este serviço as bandas de radioamadorismo por três motivos: a potência utilizada pelos radioamadores é bem menor do que a das estações de radiodifusão de ondas curtas, os radioamadores só operam uma fração de tempo ao invés de período integral e, finalmente, porque as reclamações dos radioamadores tinham menos peso do que as das grandes estações de radiodifusão.
O barulho do pica-pau russo só parou em 1989. Até então, ainda não se sabia ao certo o que provocava esse ruído. Somente após o fim da União Soviética, é que foi possível finalmente desvendar o mistério do pica-pau russo. Em suma, se tratava de um sistema operacional de radar. O nome veio por conta do barulho recorrente.
O som que vinha do Duga, que era um sistema de radares soviéticos, se protelou por muito tempo (13 anos). Esse radar tinha a função de detectar ataques de mísseis, e emitir alertas antecipados de lançamento de mísseis balísticos intercontinentais. E assim, a União Soviética poderia antecipar algum ataque e teria tempo de reagir. Por isso, a União Soviética manteve a enorme estrutura do Duga, em segredo.
O radar Duga era um equipamento fundamental em plena Guerra Fria. Com a ameaça nuclear, ele era muito útil para evitar a aniquilação mútua. Isso porque, como não havia a possibilidade de um ataque surpresa, já que o país receberia o alerta antecipadamente, qualquer tentativa ficaria inviável.
A construção do Duga começou em 1972. E o primeiro sucesso do sistema desse radar, foi detectar o lançamento de foguetes lançados do Cosmódromo de Baikonur, no sul do Cazaquistão.
O pica-pau russo, ou seja, o Duga, operava em Chernobyl, na Ucrânia. O Duga fazia parte de uma gigantesca estrutura com 150 metros de altura e 700 metros de comprimento, e utilizava uma potência estimada entre 10 e 50 milhões de Watts, conforme anteriormente explanado. Razão pela qual, uma das três estações, foi construída próximo da usina de Chernobyl.
E mesmo após o desastre nuclear, em Chernobyl, em 1986, o Duga continuou funcionando. E só parou, quando foi substituído por novas tecnologias via satélite.
O radar Duga foi deixado para apodrecer no ar radioativo de Chernobyl. Sua estrutura se encontra em decadência, abandonada devido à contaminação por radiação. Assim como veículos e dispositivos eletrônicos, após o acidente nuclear.
Devido ao radar Duga ter sido tratado como ultrassecreto, todos os documentos, sobre sua operação, foram destruídos ou arquivados em Moscou. E os componentes vitais da antena foram transportados para a capital russa, ou levados pelos saqueadores.
No caos que se seguiu ao colapso da União Soviética, o destino do radar foi consolidado por sua localização, no meio da Zona de Exclusão de Chernobyl, isolada do público, por décadas.
A catástrofe de Chernobyl impactou a vida de milhares de pessoas inocentes, cobriu todo o continente com radiação e levou à morte e à deterioração da saúde de centenas de pessoas.

Foto: wikipedia

Foto: Otávio José Dezem Bertozzi Jr.