Tenho alertado a respeito do abandono da educação brasileira há anos. Nos últimos tempos, intensifiquei o foco, escrevi vários artigos sobre o tema, porque a situação tem se agravado, não só pelo resultado sofrível constatado na aprendizagem dos estudantes, mas pelo estado cada vez mais precário das escolas públicas e do descaso para com os professores.

Além disso, nas últimas décadas foram feitas modificações no sistema de ensino – alfabetização, ensino da matemática, etc., que ao invés de melhorar a educação, prejudicaram ainda mais os estudantes do ensino fundamental, que estão chegando ao terceiro, quarto ano sem saber ler e escrever. E isso reflete nas etapas seguintes, é claro, no ensino médio e também no superior, pois se a base não é boa, todo o resto estará perdido. E agora, com os dois anos sem aula em decorrência da pandemia, a educação foi mais prejudicada ainda. Os nossos “governantes” não parecem minimamente preocupados com a educação brasileira.

A União e os Estados – o Ministério da Educação e as Secretarias de Educação – não estão dando a devida atenção à educação, não estão investindo na educação. Parecem não se dar conta de que um ensino de qualidade é condição sine qua non para que tenhamos, mais adiante, pessoas educadas e com conhecimento,  qualificadas para trabalhar e ter uma vida digna, para que tenhamos profissionais qualificados e dirigentes preparados, com um mínimo de cultura para desempenharem um bom governo à frente do país, dos Estados, dos municípios, das grandes empresas.

O próprio MEC já admitiu, publicamente, o que temos repetido várias vezes: mais de um terço das crianças do início do primeiro grau, com oito anos, nove anos, não aprenderam a ler e escrever, o que compromete, como já dissemos, toda a cadeia  escolar.

Então os responsáveis pela educação brasileira concordam e sabem que o ensino fundamental e médio estão com a qualidade bem abaixo do necessário. Mas voltam a insistir na modificação no Ensino Médio que, ao invés de melhorar a qualidade, pode ser comprometido ainda mais.

A mudança no Ensino Médio não seria um tiro pelo culatra, como já foram outras “reformas” feitas pelo nosso famigerado governo? Essa é uma das muitas perguntas que têm que ser respondidas. O tempo responderá, pois já implantaram as mudanças. E as perspectivas não são boas, pois mudaram e as escolas, na sua maioria não estão preparadas para as mudanças.

A verdade é que, com o ensino deficiente, a qualificação para o trabalho e para o ensino superior estará prejudicada, como o próprio ministro da educação  conseguiu enxergar, há algum tempo. E como isso é uma bola de neve, a formação de professores, como de outros profissionais, também não terá a qualidade necessária, pois o ensino superior é a última etapa da cadeia educacional.

O governo, ou a União, como queiram, sabe o estado deplorável em que se encontra a educação brasileira. E quando digo “educação”, friso sempre, lembro que a instrução, o ensino, está contida nela, conforme poderemos ver, se consultarmos o dicionário. O que precisa fazer é responder todas as perguntas sobre os entraves que jogam a qualidade do nosso ensino cada vez mais para baixo e começar a investir para melhorar a qualificação de nossos professores – e de outros profissionais -, na melhoria das instalações das escolas públicas, assim como equipá-las adequadamente e pagar dignamente os professores.

Sempre defendi que os professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental devem ser os mais bem pagos – por isso devem ser altamente qualificados – pois a base de tudo é o começo, o início da jornada para aquisição de conhecimento, de educação e para a formação de caráter. Não que os outros professores não devam ser reconhecidos, mas se começarmos valorizando aqueles lá do início da cadeia, todos os outros serão, consequentemente, bem qualificados e bem pagos. Se o ensino tiver qualidade, os educadores formados com ele também terão qualidade. E todos os outros profissionais que saírem das faculdades serão melhores.

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